Os segundos iniciais de Principe di un Giorno parecem transportar-nos directamente para a noite de um remoto Carnaval Veneziano. A guitarra serena e a flauta morna passam, então, a comandar as operações em mais uma obra notável da música italiana dos anos 70. À faixa supracitada, primeiro tema que dá título ao único álbum dos Celeste, poderíamos chamar música balsâmica de San Remo, homenageando quer o aceto de Modena, quer a terra natal destes transalpinos. Uma autêntica massagem à alma, pricipalmente a partir da entrada dos instrumentos de sopro ao raiar dos 4 minutos da canção. Infelizmente (mas, também, felizmente!) este capítulo da música europeia continua votado à marginalidade e bafeja somente quem mergulha profundamente nos seus alfarrábios. E só mergulhando se podem alcançar caleidoscópios sonoros absurdamente belos e majestosos como Favole Antiche. Repentinamente somos colocados no cenário de A Midsummer's Night Dream de Shakespeare e não queremos acordar. O eco estático daquela voz que sopra ao ouvido e a irrealidade do ambiente criado fazem-nos crer que é possível dançar com ninfas e brincar às escondidas com duentes se aparecermos naquele bosque, naquela noite. Segue-se o belíssimo Eftus, em que vozes dispersas em suave psicadelismo despontam por entre a serenidade de laivos renascentistas invocada pelos instrumentos. Giocchi nella Notte é outro eloquente momento melódico, romântico na forma como principia a insinuar sem revelar nada para além do translúcido. Divido em vários fragmentos, este tema termina numa toada folk pastoral que nada fica a dever aos seminais The Incredible String Band. La Grande Isola é rock progressivo clássico, com instrumentação vária e irrepreensível à desgarrada, mas em que o mellotron é rei e a flauta é raínha. La Danza del Fato sucede-a, agradável e simples balada trovadoresca e polvilhada de sinos. No fim, L'Imbrolglio encerra o álbum em toada medieval e despojada da pirotecnia contida que ficou para trás. Álbum de traços conceptuais, Principe di un Giorno dos Celeste é algo de irrepetível. Algo que já parecia de um tempo que nunca existiu quando foi editado em 1976...14 de junho de 2009
Dieta Mediterrânica II
Os segundos iniciais de Principe di un Giorno parecem transportar-nos directamente para a noite de um remoto Carnaval Veneziano. A guitarra serena e a flauta morna passam, então, a comandar as operações em mais uma obra notável da música italiana dos anos 70. À faixa supracitada, primeiro tema que dá título ao único álbum dos Celeste, poderíamos chamar música balsâmica de San Remo, homenageando quer o aceto de Modena, quer a terra natal destes transalpinos. Uma autêntica massagem à alma, pricipalmente a partir da entrada dos instrumentos de sopro ao raiar dos 4 minutos da canção. Infelizmente (mas, também, felizmente!) este capítulo da música europeia continua votado à marginalidade e bafeja somente quem mergulha profundamente nos seus alfarrábios. E só mergulhando se podem alcançar caleidoscópios sonoros absurdamente belos e majestosos como Favole Antiche. Repentinamente somos colocados no cenário de A Midsummer's Night Dream de Shakespeare e não queremos acordar. O eco estático daquela voz que sopra ao ouvido e a irrealidade do ambiente criado fazem-nos crer que é possível dançar com ninfas e brincar às escondidas com duentes se aparecermos naquele bosque, naquela noite. Segue-se o belíssimo Eftus, em que vozes dispersas em suave psicadelismo despontam por entre a serenidade de laivos renascentistas invocada pelos instrumentos. Giocchi nella Notte é outro eloquente momento melódico, romântico na forma como principia a insinuar sem revelar nada para além do translúcido. Divido em vários fragmentos, este tema termina numa toada folk pastoral que nada fica a dever aos seminais The Incredible String Band. La Grande Isola é rock progressivo clássico, com instrumentação vária e irrepreensível à desgarrada, mas em que o mellotron é rei e a flauta é raínha. La Danza del Fato sucede-a, agradável e simples balada trovadoresca e polvilhada de sinos. No fim, L'Imbrolglio encerra o álbum em toada medieval e despojada da pirotecnia contida que ficou para trás. Álbum de traços conceptuais, Principe di un Giorno dos Celeste é algo de irrepetível. Algo que já parecia de um tempo que nunca existiu quando foi editado em 1976...