4 de maio de 2012

Supercordas

A guitarra é o pilar do rock. O falo simbólico que solta ondas eléctricas. O megálito da religião roqueira. Como todos os organismos pulsantes e sujeitos à mão do Homem, a guitarra tem mudado ao longo dos tempos e ao longo das mãos que a domaram. Toscos e génios, virtuosos e espontâneos, todos amam a guitarra à sua maneira. Até quem não tem uma pode sempre matar o desejo no nobre exercício da air guitar, dependendo do seu sentido de ridículo...
It Might Get Loud, documentário de 2008 realizado por Davis Guggenheim (homem cujo currículo fílmico inclui o célebre An Inconvenient Truth), debruça-se sobre a guitarra eléctrica e três grandes figuras eternamente enamoradas dela: Jimmy Page, David "The Edge" Evans e Jack White. Qualquer uma destas personagens dispensa apresentações e o documentário alimenta-se do choque entre as idiossincrasias e as semelhanças entre elas. São três gerações das seis cordas que se sucederam reactivamente. Jimmy Page é o ícone dos anos 70, o gigante que arcava com o peso dos Led Zeppelin e cujas matizes de guitarra variavam entre o bucólico e o orgásmico. The Edge emerge com a inspiração do punk e transforma-se, progressivamente, num rato de laboratório, experimentando sonoridades e arquitectando texturas inovadoras. Mesmo sabendo que os U2 já não são o que eram e que as jactâncias messiânicas de Bono enfadam muita gente, é impossível não admirar um guitarrista desta grandeza. Mas é Jack White quem rouba o filme. Todo ele é mística e surrealismo. O mentor dos White Stripes, Raconteurs e Dead Weather caminha com um pé no rock e outro nos blues. É um branco com alma de negro, que parece ter o espírito infestado de bluesmen do Delta do Mississippi.  E trata a guitarra com a sofisticação de quem exorciza os fantasmas que lhe assombram a alma através dela. Em It Might Get Loud, a guitarra não toca baixinho. Essencial para músicos e não-músicos e roqueiros dos 7 aos 77 anos.

It Might Get Loud from Quieren Rock on Vimeo.