5 de fevereiro de 2013

Chancelaria


A excelente editora alemã Bureau B reeditou recentemente o primeiro álbum dos seus conterrâneos hamburgueses Palais Schaumburg. O disco, datado de 1981, é uma das obras de charneira da Neue Deutsche Welle, a resposta teutónica ao pós-punk britânico. Tão dançável como cerebral, tão cativante como esquisito, Palais Schaumburg ainda hoje intriga e desarma. É um disco tão alemão na sua estética formal como anti-alemão na mensagem.
A génese do grupo incluiu dois nomes maiores da modernidade musical da nação: o mestre da samplagem Holger Hiller, aqui encarregue da guitarra e das vocalizações entre o histriónico e o acossado, e F.M. Einheit, futuro baterista dos Einstürzende Neubauten. O primeiro abandonou a banda para seguir uma carreira a solo pouco depois do lançamento do álbum de estreia. O segundo saiu ainda antes disso. Esta perda progressiva de elementos fundamentais fez com que os Palais Schaumburg fossem perdendo qualidades até colocarem um ponto final na sua existência em 1984, após três álbuns e uma mão-cheia de singles. Merece, no entanto, destaque Moritz von Oswald, um dos maiores nomes da electrónica dançante da actualidade e que foi igualmente percussionista do grupo na sua derradeira fase.
Algures entre o tratamento esquelético e minimal que os A Certain Ratio deram ao funk e o rock experimental dos This Heat, Palais Schaumburg instala-se no sistema nervoso do ouvinte como uma agulha fina que penetra a pele e por lá se move sem nunca trespassar a carne. Wir Bauen Eine Neue Stadt é o tema que abre o disco e o único single dele extraído. Um festival de irreverência anárquica, com ritmo espasmódico e vídeo a condizer:





Gute Luft e Deutschland Kommt Gebräunt Zurück surgem depois, estranhamente dançáveis, inadaptados mas acessíveis. Die Freude e Eine Geschichte incorporam os ritmos ossudos e os baixos angulares pelos quais a banda se notabilizou, assim como as demenciais vocalizações de Holger Hiller, a meio caminho entre David Thomas e David Byrne. Hat Leben Noch Sinn? é quase disco mutante, uma marcha militar a trilhar a pista de dança. E Madonna pode bem ser o melhor momento do álbum, um tremendo exercício de frenesim rítmico, impregnado de frieza eufórica.
A edição deluxe de Palais Schaumburg acrescenta-lhe prestações ao vivo, bem como os primeiros singles da banda, onde a estética se começou a delinear e peças imprescindíveis para compreender a sua evolução. Fica a interpretação de um deles, Telephon, envolta numa atmosfera quase expressionista e um belo atestado das capacidades do quarteto. Que entretanto se reuniu na formação original, voltando a espalhar brasas pelos palcos que tiverem o arrojo de os acolher.