20 de fevereiro de 2014

Cisnes Negros


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm5ZGossN-U6m_IbmdXEsnojgOQ0fe80JY7u3pQJtw_bxRbQza4Nkk5JWMjtpDOcFg4yr9_jWX_onH_1B8Ql4Wx9QiHgFjCdqY_KXFQk4bqdBW78WUdB52nY9intEJkRtJWEeKJfI7U6s/s1600/%5BAllCDCovers%5D_swans_children_of_god_1990_retail_cd-front.jpgChildren of God é uma primeira mas ilusória acalmia em relação ao niilismo apocalíptico que os Swans reflectiam nos primórdios. O negrume abrasivo, pesado e denso dos quatro primeiros álbuns da banda nova-iorquina granjeou-lhes um culto underground e tratou de afastar sem contemplações quem não estivesse à altura de saborear sons tão misantropos. Em última instância, esta tetralogia é uma sátira terrorista e extrema, que fustiga o capitalismo, o poder corporativo, a polícia e outros cancros sociais aos olhos dos Swans e, principalmente, do seu líder Michael Gira.
Editado em 1987, Children of God é mais sombrio que agressivo e mais sedutor que repulsivo. A religião (ou a sua dessacralização) é a temática mais visada no álbum e as atmosferas ritualistas e tribais são a única herança das obras passadas. Os Swans expandem-se e suavizam-se sem nunca perderem a intensidade e a capacidade de inquietar e provocar. O trespassante New Mind abre o disco com ritmos marciais e mostra um Michael Gira mais barítono cavernoso que o gritador irado que predominava anteriormente. The sex in your soul will damn you to hell, anuncia ele, e a música que envolve a pregação é a mais expansiva que o seu grupo arquitectou até à data.
A massa industrial que pontuava o som dos Swans dissipa-se em sombras góticas ao longo de Children of God. Como se um filme gore se transformasse em thriller psicológico. Jarboe torna-se peça fulcral no xadrez da banda e divide com Gira as vocalizações. In My Garden merece óbvio destaque, com a voz da cantora a brotar como orvalho de um labirinto de vegetação morta. A mesma voz que surge, trágica e ominosa em Blood and Honey e cristalina como uma mortalha em Blackmail.
Outro interessante e importante passo em frente é a inclusão proeminente de instrumentos acústicos, que vão da guitarra aos sopros, e que projectam os Swans em ritos neofolk muito em voga na Europa via Death in June ou Current 93. As seis cordas arrastadas de Real Love e o oboé taciturno que serve de entrada ao pungente Trust Me são claros exemplos da expansão que o grupo empreende. Graciosamente, mas sem facilitismos. Porque do outro lado do espelho escondem-se atavismos poderosos e corruptores como Blind Love ou Sex, God, Sex.
Children of God pode não ser o melhor trabalho dos Swans, mas é o mais importante. É uma obra que lançou sementes evolutivas e que se assume como eterno azimute para um grupo que vive no presente um constante estado de graça. Um disco com bolinha no canto superior direito para as mentalidades mais sensíveis (tacanhas).