7 de fevereiro de 2020

Memories Are Made of Hits


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Em Chapter and Verse, o quase sempre cordato e discreto Bernard Sumner coloca, pela primeira vez, as suas memórias em hasta pública. O guitarrista dos Joy Division e voz principal dos New Order mergulha no passado para contar a sua história e a história em torno de duas das maiores e mais influentes bandas de sempre. A questão que se coloca é: seria necessária mais uma narrativa acerca deste tema? A resposta é: se forem todas como esta, claro que sim.
Existe sempre um ponto de vista diferente para cada história e o de Bernard Sumner é particularmente cativante, conseguindo absorver-nos constantemente no relato de eventos que já se tornaram lendários.
Da infância nos subúrbios de Manchester à formação dos Joy Division, do trauma fracturante causado pela morte de Ian Curtis às noites megalómanas da discoteca Haçienda, Sumner dirige-se ao leitor de forma simples e directa, não sendo raras descrições intimistas e episódios anedóticos. Um destes últimos, versando o célebre manager de ambas as bandas, Rob Gretton, merece a devida transcrição: 
"We were invariably late getting to the studio everyday, which was always Rob's fault. You'd try to wake him and, even though he'd asked you to make sure he was up in time, he'd do the same thing to you everytime: his two front teeth were false ones which he'd keep in a glass of water overnight by the side of the bed, and when you'd try to wake him up he'd reach for the glass, take the teeth out and fling the water over you. Every fucking day." Sem dúvida, recordar é viver.
Chapter and Verse privilegia, muitas vezes, a descrição dos artistas em detrimento da arte. Apesar de não faltarem pormenores sumarentos acerca da criação de canções eternas como Love Will Tear Us Apart, Atmosphere, Blue Monday ou Temptation, são os retratos dos criadores que tomam a preponderância. As personalidades, qualidades e defeitos de Tony Wilson, Martin Hannett ou Peter Hook. Os seus egos intermináveis e as suas fragilidades.
O livro termina com a transcrição de uma sessão de hipnose feita por Bernard Sumner a Ian Curtis. E o que fica desse momento resume muito do que este livro revela: tragédia e inocência.