15 de outubro de 2008

Re-fazer, re-modelar...

Hoje recebi um e-mail que me prendeu a atenção. Tanto que decidi transcrevê-lo aqui. Foi-me enviado por um amigo e não sei quem é o autor do texto. Mas as palavras falam com tal acutilância e desconfiança acerca do mundo de hoje, que bem poderiam constituir o reflexo do pensamento de qualquer um de nós. Termino a transcrição com um exemplo paradigmático do que me apetecia que acontecesse. Seria tão bom destruir o que está podre e nos vai apodrecendo sem querermos...

3 000 000 000 000, é o número de euros que vão ser gastos a salvar da bancarrota os bancos do mundo inteiro. De facto, tivemos alguma dificuldade em perceber qual a verdadeira designação em português desta brutalidade de algarismos, mas a conclusão é de ser um total de três mil mil milhões de euros, ou como os americanos gostam de dizer, 3 triliões de euros.
Valor que chegaria para comprar todo o ouro existente à face da terra a preços de hoje e com o que receberíamos de troco ainda conseguir comprar a Suécia.
Por isto tudo devemos estar contentes, muito contentes. Queixamo-nos sempre de temros políticos que nunca fazem nada e afinal, mesmo no seio da maior crise financeira de sempre, eles fizeram alguma coisa. Não percebemos muito bem o quê nem para quê, mas certo é que algo foi feito.
Resta então saber de onde virá esta quantia inaudita que felizmente nos salvará a todos de sermos obrigados a assistir ao triste espectáculo de vermos banqueiros a lavar pratos em restaurantes ou a pedir na Rua do Carmo.
Existem três fontes possíveis e dessas três duas parecem-nos inviáveis. Aumentar os impostos para conseguir tal barbaridade de dinheiro só se vendessemos todos a nossa alma ao diabo, isto é, ao estado e deixassemos de nos alimentar durante centenas de anos, o que não parece ser uma hipótese, embora vontade não devesse faltar pelas bandas de quem anda na política.
Pedir emprestado é também um contrasenso pois não haveriam ninguém a quem o fazer.
Resta apenas uma única solução que é a de imprimir mais notas, se necessário colocar as tipografias a rolar 24 horas por dia até satisfazer as necessidades do mercado, perdão, dos banqueiros. Parece-nos este ser o mais lógico caminho a tomar, levando-nos inexoravelmente ao aumento brutal da inflação quer aqui quer nos EUA. De facto, deste modo, o colapso do dólar que para muitos parecia afastado volta a surgir como um cenário bastante provável . Deixemos pois passar o período das eleições americanas e veremos o que vai acontecer.

Depois deste mistério resolvido nas nossas cabeças, vem outra pergunta de algibeira. Afinal qual a razão de ser preciso este dinheiro para salvar banqueiros?
Com a economia a colapsar, famílias inteiras sem conseguir pagar as suas contas, a criminalidade a subir em flecha e o desemprego sem dar sinais de tréguas, porque raio é que é assim tão importante salvar os bancos?
Dizem-nos então lá de cima que a teoria desta jogada é a de encorajar novamente os bancos a emprestarem dinheiro e assim não estagnar toda a economia que do crédito depende. É esta a história oficial e por uma vez na vida nós acreditamos nos políticos.
Bastou aos banqueiros deixarem de emprestar dinheiro para activar o modo de pânico dos políticos que por sua vez entregaram gratuitamente dinheiro a rodos para que nas próximas eleições ninguém seja acusado de fazer encolher a sua economia. Portanto, trocado por miúdos, os banqueiros deixaram de emprestar dinheiro, fazendo de reféns toda a economia mundial e apenas voltando à sua actividade normal quando os políticos em pânico de perderem popularidade nos seus respectivos países pagaram o resgate que os banqueiros bem entenderam, neste caso, os 3.5 triliões de dólares.
Pensando bem na forma como esta extorsão vai beneficiar os Zés e os Silvas que precisam de pagar as suas contas e não têm dinheiro, a conclusão é simples: não vai.
Às palavras de ordem de que é preciso salvar os banqueiros urgentemente, respondemos que o mundo não são só gordos banqueiros, mas também o cidadão comum que se vai contentar com míseras ajudas e com a quase garantia de que não vai perder tudo. E a PJ não investiga.
A juntar-se ao coro de economistas e políticos do sistema que insistiam em atirar a culpa para o cidadão comum que fosse levantar as suas poupanças e colocá-las debaixo do seu colchão, também os opinion-makers da nossa TV se esforçaram ao máximo em culpabilizar o mero cidadão que entrasse em pânico, dizendo que o sistema colapsaria devido à estupidez de alguns que resolveram salvar as poupanças que tanto custaram a ganhar.

Disseram-nos que deveríamos confiar no sistema bancário cegamente com as nossas poupanças, e que se não o fizessemos poderíamos ser acusados de traição à pátria por precipitar o colapso do sistema financeiro nacional.
Mas ninguém disse que o problema inicial, e pelo qual todos temos de pagar triliões dos nossos bolsos para o resolver, foi o de os próprios bancos não confiarem uns nos outros com os seus recursos. Se os bancos não confiarem uns nos outros são presenteados com o nosso dinheiro de borla, se por essa mesma razão nós não confiarmos nos bancos, podemos até ir parar à prisão, como aconteceu com algumas pessoas que falaram abertamente do possível colapso de um ou outro banco.
Contra a corrente afirmamos que quer haja ou não motivos para isso, devemos poder levantar as nossas economias a qualquer momento, o dinheiro é nosso e é por isso um direito que nos deve assistir. E devemos poder faze-lo sem quaisquer sentimentos de culpa pelo possível colapso do sistema mal amanhado de ínicio.
Alertamos pois para uma falha gravíssima do sistema que poucos se apercebem e que quando chegar ao domínio público, amanhã ou daqui a 300 anos, pode quase decerto arruinar por completo a estrutura bancária mundial. Esta falha deve-se a algo que é endémico ao sistema desde a sua concepção, quando os banqueiros não passavam de cambistas nos finais do século XVIII.
Cada banco tem por obrigação ter por reservas efectivas em dinheiro cerca de 10% do capital que tem a girar no mercado. Para os mais desatentos, este número pode significar que os bancos, na sua totalidade, devem possuir em reservas monetárias um mínimo de cerca de 10%. Nada mais longe da verdade.
É que de cada vez que um banco empresta dinheiro, e, grosso modo, pode faze-lo até um total de 9 vezes mais do que as suas reservas mínimas, gera um depósito noutra instituição bancária, que vai contar para as suas próprias reservas mínimas.
Em linguagem acessível, se todos pensávamos que eram os governos e os bancos centrais que decidiam criar ou não dinheiro, este sistema revela-nos que isso assim não se passa.

Imaginemos um banco A que tem de reservas 100, logo poderá emprestar até 1000, o que significa que "criou" 900 unidades de moeda com autorização do banco central. Só que estes 900 vão ser emprestados a clientes que os vão usar para variados fins, como comprar casa ou ir ao jardim zoológico. Então, estes 900 passam da conta dos clientes do banco A para as contas das pessoas a quem estes compraram as coisas, possivelmente num banco B.
Logo, estes 900, criados do nada, vão servir de reservas reais para os outros bancos, como no banco B, que por sua vez poderá emprestar mais nove vezes o seu total. Rapidamente, estes 900 se tornam em 9000, pois são reservas reais dos bancos B e que sucessivamente podem ser depositados nos bancos C, gerando 90000 de crédito. Tudo isto com apenas 100 unidades efectivamente criadas com autorização.
Este é o problema actual, existe muita coisa virtual e pouca real.
Quando o crash e a grande depressão de 1929 aconteceram, apenas 0,1% da economia era virtual, sendo os outros 99,9% reais da economia produtiva, como fábricas, agricultura, etc.
Hoje em dia, numa crise que parece já ser bem mais grave do que a destes remotos tempos, a situação inverteu-se por completo e menos de 0,1% pertencem à categoria de bens reais. Podemos então imaginar a cascata de colapsos que se podem esperar no futuro próximo.
As próximas crises a atingirem como um relâmpago virão do sector de derivados, automóvel e segurador.
Infelizmente a questão já não é saber se a crise chegará ao cidadão comum com a mesma violência de tempos mais idos, mas sim saber quando é que isso vai acontecer.
Entretanto, e com tantas impressoras de fazer notas a funcionar, achamos que o dólar vai rapidamente voltar ao lugar de onde saiu há poucos meses, o fundo.