24 de outubro de 2009

Dieta Mediterrânica IV

É parca a informação em torno do colectivo italiano Dedalus. Originários de Turim, tiveram o seu apogeu no início dos anos 70. A isso se deve o brilhante primeiro álbum que editaram e que replica o nome da banda. Algures entre o jazz mais experimental, a electrónica mais expansiva e as paisagens de Canterbury, Dedalus é uma experiência auditiva embebida no mais audaz e livre espírito da época.
A abertura faz-se sinuosamente com Santiago, em que uma guitarra divagante se junta a um contrabaixo enérgico, cativando abruptamente e logo à partida. Uma pausa para respirar e eis que um saxofone igualmente atrevido toma o tema de assalto, conquistando-nos irremediavelmente. Defraudando as expectativas da melhor forma, este exercício de jazz rock inflecte para territórios de electrónica espacial, que se distende livremente até à fusão final em apoteose jazzística. Leda abre com chispas ecoantes de piano eléctrico, temperado por um tímido saxofone. Peça de atmosfera deliciosa e quente, introduz reminiscências dos Soft Machine das eras de Fourth e Fifth. Conn envereda pelo mais puro improviso, avançando às apalpadelas por entre a precisão rítmica de relojoeiro suíço. Segue-se C.T.6, peça complexa e magnificamente executada, segmentada em breves e caleidoscópicos trechos, que se vão sucedendo progressivamente para produzir um autêntico patchwork sonoro. Um panegírico para os sentidos. O quinto e último tema, Brilla, conclui o álbum num devaneio de jazz cósmico, progressivo, num turbilhão inescapável de alimento para a mente.
Para além dos supracitados Soft Machine, essa obra-prima do jazz de fusão que é Bitches Brew de Miles Davis surge inescapavelmente à ideia. Mas, neste disco de 1973, os Dedalus conseguem manter uma consistência de tal forma incrível, quer a nível composicional, quer a nível execucional, que nos envolve deliciosamente e nos faz esquecer tudo para além da excelência do momento.