Os londrinos Synanthesia foram mais um caso perdido na folk vanguardista que despontou no final dos anos 60. Mais um broto cortado antes que lhe fosse permitido florescer em toda a plenitude. Seja pela excessiva proliferação do género na época em epígrafe, seja por pura ignorância e desinteresse do público e/ou das editoras, certo é que este interessante colectivo britânico saiu do alcance dos radares após a edição do seu primeiro álbum e nunca mais voltou para contar a história.
O disco homónimo dos Synanthesia, lançado em 1969, é um inspiradíssimo tratado do tratamento cirúrgico e inovador aplicado à folk britânica dessa década, sendo que merece elevado reconhecimento pela exibição de inovação associada à intemporalidade. Perfeitamente encaixável no catálogo dos clássicos perdidos, a obra solitária da banda exala misticismo, romantismo e paganismo, não necessariamente por esta ordem. O rigor composicional e a depuração instrumental são elementos relevantes e impossíveis de descartar num trio exclusivamente acústico e sem secção rítmica clássica definida.
As raízes musicais dos membros dos Synanthesia reflectem o ecletismo padronizado na obra. Dennis Homes, vocalista principal - tarefa que acumula com a guitarra acústica e o xilofone - é um homem do rock. Jim Fraser domina os sopros, da flauta ao saxofone, e transita directamente do jazz. O multi-instrumentalista Leslie Cook surge como o elemento da folk mais purista, adicionando elementos como o bandolim e o violino à já rica paleta musical.
Synanthesia carrega a beleza de uma tarde outonal, ora sombria ora solarenga. É um disco aconchegante, embora não desdenhe enveredar por caminhos de estranheza e mistério. Existem várias referências mitológicas ao longo da obra, acentuando a sua vertente dionisíaca. Mnemosyne e Vesta assistem à folk sendo devorada pelo jazz e saindo saciada do banquete. Minerva envereda por luminosos carreiros pastorais e o excelente Morpheus condensa na perfeição o conceito caleidoscópico do álbum.
Igualmente dignos de destaque são o bucolismo acinzentado de Peck Strangely and Worried Evening, a introspecção taciturna mas doce de The Tale of the Spider and the Fly e a melancolia crepuscular de Just as the Curtain Finally Falls. Synanthesia foi alvo de reedição há muito aguardada em 2005, a qual vale, sobretudo, pela adição do único single editado pela banda durante os seus parcos dezoito meses de existência. Intitula-se Shifting Sands e serve uma belíssima e suculenta fatia de folk psicadélica, farta de cores oníricas e abandono melódico.
O único álbum dos Synanthesia reflecte, tal como tantos outros à sua época, uma miríade de influências, que vão de Donovan à seminal Incredible String Band. Não obstante, o tratamento dado pelo trio londrino às suas referências acaba por emulá-las e transcendê-las, o que torna este disco obrigatório para qualquer entusiasta ou completista do melhor que os anos 60 ofereceram em termos de florescimentos musicais.