Os Third Ear Band foram um colectivo britânico, formado em Londres em meados dos anos 60, imbuído de elevar a música popular a mais altas esferas. Com muito pouco de convencional no que toca à abordagem composicional e à paleta de instrumentos escolhida, o grupo acabou por granjear relativo sucesso à sua época, muito graças ao regime flower power vigente e ao pleno franqueio de portas a todas as abordagens e liberdades musicais.
Longe das fronteiras demarcadas pelo rock, os elementos dos Third Ear Band reclamaram como influências sonoridades oriundas da música indiana, do experimentalismo e da folk mais arcaica.
Se o primeiro álbum da banda - Alchemy, de 1969, que contou com a participação do lendário John Peel - foi uma inovadora pedrada no charco musical do seu período, o seu sucessor consolidou-a como pilar definitivo na vanguarda sonora inglesa.
Editado em 1970, Third Ear Band tornou-se conhecido mais prosaicamente como Elements. A temática é conceptual e centra-se nos quatro elementos terrestres Ar, Terra, Fogo e Água. Os instrumentos que a animam envolvem apenas violino, violoncelo, viola, oboé e percussão. Tudo parece intuir que nos dirigimos de forma incauta para a new age mais pedante e anódina, mas felizmente a obra prova o contrário, mantendo ao longo das suas quatro peças a notável capacidade de abraçar e arrastar o ouvinte na sua cadência hipnótica, contudo sem nunca descurar um núcleo ardente e orgânico, que torna a experiência tão física como espiritual.
Air principia com um sopro forte, que estende a passadeira ao oboé de Paul Minns e ao violino de Ursula Smith, suspensos como folhas ao vento e aguardadas no solo por um ritmo circular, leve mas insistente.
Earth avança pelas sombras de uma dança medieval, lentamente ao princípio, depois num crescendo que a transporta para territórios do folclore balcânico. Um casamento belo e encantatório, que termina tão fugazmente como começou.
Fire surge envolta na transcendência de uma raga indiana, exalando exoticismo em elevadas doses psicadélicas. É a peça mais densa do álbum, mesmérica e penetrante, um convite ao abandono meditativo pelos confins da nossa mente.
Ao tema mais incandescente, segue-se o mais cristalino. Water constitui o culminar beatífico do disco, espargindo uma doce e envolvente melodia que nos transporta para o embalo de ondas marinhas.
Pese embora Third Ear Band entroncar plenamente no zeitgeist que lhe trouxe inspiração e vida, o lirismo musical que guarda continua a ser deveras intemporal e imensamente cativante. Após a sua edição, o grupo enveredou pela feitura de música para filmes e, entre aparições esporádicas e desaparições espontâneas, cessou oficialmente actividades em 1993. Além de irrepetível na história da Third Ear Band, a sua segunda obra merece justamente figurar no panteão dos discos mais singularmente belos e inovadores da sua era.