20 de janeiro de 2021

Kosmische Kosmetik LV

 

Da fornada de projectos que compõem a nova vaga do Krautrock, os Electric Orange ocupam lugar de destaque. Formados em 1992, lançaram, até à data, mais de uma dezena de álbuns, todos revestidos de considerável consistência.
As influências da banda são óbvias e assentam nos cânones omnipresentes do género. Contudo, além de elementos electrónicos derivativos dos Tangerine Dream ou da complexidade rítmica repetitiva dos Can, denota-se a presença subtil de laivos neo-psicadélicos, presentes em grupos como os Ozric Tentacles ou os Loop.
É difícil apontar um pináculo na perene discografia dos Electric Orange. Não obstante, Volume 10, álbum editado em 2014, merece especial destaque.
Desde logo, evidenciam-se perante o melómano mais atento as referências aos Black Sabbath, embora a banda germânica não siga as pisadas dos mestres metaleiros. O título do álbum pisca o olho a Vol. 4, quarto disco da banda de Birmingham, e os títulos dos temas envolvem estranhos jogos de palavras com clássicos Sabbathianos como Paranoid (aqui adulterado para Paraboiled), Snowblind (transformado em Slow Bind) ou Sweet Leaf (aqui denominado Suite Beef).
Se a música presente em Volume 10 não é, de todo, reminiscente de tendências Heavy-Metal, revela uma aura sombria e doses generosas de grooves penetrantes e obnubilantes. A toada é pulsante e constante ao longo do disco, cujas oito peças parecem unir-se simbioticamente, revelando pontuais trechos de destaque.
A parafernália instrumental é extensa, conjugando violino e bandolim com Moog e Mellotron, entre outras promiscuidades sónicas. 
Paraboiled inicia as hostilidades num lento torpor ritualista, quase tribal, que aumenta de intensidade no tema seguinte - Slowblind. Symptom of the Mony Nurse projecta a guitarra para primeiro plano, a qual investe por entre teclados serpenteantes e desemboca em Suite Beef, devaneio em animação suspensa num vácuo escuro, porém etéreo. A vaga melodia hipnótica cola-se à peça seguinte, A Tuna Sunrise, onde guitarra acústica e Mellotron cintilam na escuridão.
Behind the Wall of Sheep retorna aos ritmos circulares e insistentes do início, induzindo ao transe e ao abandono, elevando-se tempestuosamente, para depois cair num murmúrio arrastado, resgatado por ecos electrónicos. Seven and Smell é um interlúdio evanescente, coberto por uma batida marcial. Segue-se Worn Utopia, tema que encerra o disco de forma solene e sombria, dominado por rasgos de improviso que se extinguem no ritmo esquelético e no órgão inerte que anunciam o fim.
Volume 10 é para ser consumido de uma assentada. Mais que um disco, é uma viagem musical, uma longa e estranha trip, que prova que a era dourada do Krautrock não se extinguiu na década de 70 do século XX e ainda pode ser reavivada.