29 de dezembro de 2018

A Marca Amarela IX

Image result for brast burnDebon, datado de 1975, é a única pegada musical deixada pelo obscuro colectivo japonês baptizado como Brast Burn.
Objecto de culto há muito considerado perdido, o álbum tem sido alvo de pontuais e recentes reedições, sem que as próprias editoras responsáveis (nomeadamente a Paradigm e a Phoenix) tenham conhecimento dos criadores da obra, agradecendo, inclusive, a prestação de informações adicionais a quem saiba quem são e de onde vêm os Brast Burn.
Supostamente criada por estudantes de arte nipónicos, a música de Debon inscreve-se na corrente mais limítrofe e surreal do psicadelismo, aproximando o grupo do experimentalismo free form das franjas mais radicais do Krautrock que dos territórios melódicos e espaciais da maioria dos seus contemporâneos e conterrâneos sinfónicos e tradicionalmente progressivos da década de 70.
Composto exclusivamente por dois longos e expansivos temas, o álbum franqueia portas a um mundo de mistérios e maravilhas a quem demonstre abertura mental para neles penetrar e vaguear. A base instrumental é, essencialmente, acústica, assentando em guitarra, percussão, harmónica, flauta e sinos. Pontualmente, a electricidade de uma guitarra em regime fuzz invade a atmosfera, bem como vozes que alternam entre mantras repetitivos, cujas palavras são insondáveis, a fraseados isolados e derivativos de Damo Suzuki. As ambiências hipnóticas e, por vezes, atonais, remetem igualmente para a densidade meditativa e mística da música tibetana. Não obstante, as melodias surgem, fluídas e envolventes, capturando o ouvinte na sua teia e enredando-o numa doce letargia enquanto o convidam a explorar os cantos mais recônditos da sua consciência.
O termo trance folk poderia perfeitamente ser atribuído a estes incógnitos magos sonoros. A toada tribalista, ritualista e lisérgica parece resumir os momentos mais herméticos e narcóticos dos Faust, Popol Vuh ou Dom. É música nua, livre e imaginativa. Tão afastada do conceito musical presente, que soa mais vanguardista que anacrónica. E bela, estranha e incrivelmente bela.