Roseland NYC Live foi já considerado um dos melhores álbuns ao vivo de sempre, feito estranho e discutível, tendo em conta a recatada e discreta banda que o assinou, os britânicos Portishead, bem como o estilo musical que praticam. Contudo, a história toma outro rumo perante o contraponto visual do concerto registado em 1997 num velho salão de baile nova-iorquino.
Roseland New York, filme-concerto realizado por Dick Carruthers, revela os Portishead num registo nú e crú, sem artifícios, luzes ou sombras além da atmosfera esparsa do local onde tocam, perante os olhares próximos do público e acompanhados por um conjunto de cordas intitulado apenas - e enigmaticamente - The Orchestra.
O contraste entre o trip-hop jazzístico com laivos de film noir praticado pelo grupo e a exposição da sala que alberga a música permite uma ilusória sensação de intimidade, no qual o narcótico embalo sonoro embate na rigidez permanente da luminosidade e da performance artística sem subterfúgios.
Os maneirismos vocais a la Billie Holiday de Beth Gibbons, a guitarra western spaghetti em território urbano de Adrian Utley e a teia sonora de teclas, ritmos e samples construída por Geoff Barrow florescem de forma hipnótica e encantatória em Roseland New York. Trata-se de um objecto único e precioso relicário para entender a música da década de 90 e de um dos seus colectivos mais geniais e influentes. Como esquecer ou não querer regressar ao abandono melancólico misturado com negrume sensual de Roads, All Mine, Glory Box ou Over? Esperemos que o sucessor de Third não demore mais dez anos a ver a luz da noite.