Part 1, a génese, emerge lentamente de um eco aquoso, intra-uterino, para se ordenar num contínuo magnífico de guitarra gentilmente distorcida, percurssão ritualística e flauta mágica. Um estratégico e divinal moog imiscui a levitante tonalidade cósmica no tema, que circula e lateja sem sair do mesmo sítio. A caminho do fim, a voz de Rolf Fichter acrescenta uma aura mística, nitidamente hindu, acentuando ao extremo o que já estava a ser um mergulho na espiritualidade oriental. Com o contínuo eco da guitarra a preencher a peça, e sob improvisos de xilofone e flauta, a primeira fase da meditação funde-se a Part 2. Breve mas intensa, esta segunda parte enreda-nos numa teia de baixo minimal e circular, flauta pastoral, e num, algo surpreendente mas hospitaleiro, volte face jazzístico de piano e bateria. A cadência volta ao início na peça subsequente, obviamente intitulada Part 3. Mais do mesmo, mas que sublime que é este mesmo! Aqui, a guitarra deixa de ser envergonhada e inicia uma deambulação improvisada, num tapede voador de pendor jazzístico, doseado pelo psicadelismo mais experimental. A fechar, retornam as tonalidades mais bucólicas da flauta e o subtil instrumentalismo que se abre como um mantra, mas a olhar para dentro, a fazer esquecer o mundo exterior.
A génese que viu a luz na primeira parte de A Meditation Mass reencontra-se com ela própria para encerrar o álbum, em Part 4. Regressam as ambiências orientais que se fundem com a própria folk alemã, resultando numa atmosfera única, etérea, astral e beatífica. Discos como este são como pomada Hirudoid para a alma. São impregnados de música que não força para agradar, mas que agrada porque as vibrações que emana são puras e plenas de liberdade. Retomam um elo de ligação com a natureza e a espiritualidade humanas que aparenta ser actualmente recalcado, mas que é, na sua essência, inquebrável.