25 de janeiro de 2017

Carne Crua




É bom saber que Nick Cave voltará em breve aos concertos. É no palco que o músico australiano se transcende e mais nos arrebata. Numa vida tão atribulada e cheia de percalços, a dor da perda de um filho levou à composição de um dos seus discos mais belos, tocantes e sombrios, Skeleton Tree. O que está para vir não trará, decerto, interpretações tão sanguíneas e viscerais como antigamente. Passaram-se 25 anos desde Live at the Paradiso, gravação de um concerto ao vivo no mítico clube de Amesterdão. Os tempos eram diferentes, a idade mais propícia a pirotecnias e o disco do momento chamava-se Henry's Dream. Todos sabemos que Nick Cave (com ou sem os seus Bad Seeds) envelheceu com graça, classe e sabedoria. O poético agitador de outrora deu lugar a um dos mais consagrados escritores de canções da actualidade. É bom saber que Nick Cave ainda nos mostra os caminhos tortuosos da sua alma. Tal como é reconfortante saber que a intensidade vibrante e excessiva do passado continua preservada para colmatar as saudades.


             

24 de janeiro de 2017

Admirável Mundo Falso

HyperNormalisation: Post-Truth Documentary – Disphotic



HyperNormalisation é um documentário editado pela BBC nos finais de 2016, cuja premissa assenta em demonstrar que o mundo real em que vivemos foi substituído por um mundo falso e sustentado por forças empresariais e políticas. Ao longo de quase três horas, o realizador, Adam Curtis, parte de uma cadeia de eventos iniciada há 40 anos para mostrar que as complexidades do planeta foram sendo gradualmente escotomizadas para dar lugar a uma visão simplista e insciente da história actual.
No entender de Curtis, acontecimentos recentes como a guerra na Síria, o Brexit ou a eleição de Donald Trump, são fruto da passividade latente de quem se encontra no poder, e cuja falta de entendimento e controle da realidade levam à criação e manutenção de uma normalidade ilusória.
Apesar dos teóricos da conspiração esfregarem as mãos de contentes sempre que surge um documento deste género, HyperNormalisation é uma produção fundamentada e credível, plena de referências provenientes dos arquivos da BBC e de visão obrigatória. Numa era de confusão e incerteza, são obras como esta que alertam, agitam e motivam para uma mudança de paradigma consciente e universal que urge iniciar.


                   

Vampirismos




Shadow of Light é um documento visual de 1984 que guarda os nove filmes promocionais editados pelos Bauhaus. Lançado um ano após o canto do cisne dos fundadores do movimento gótico, continua a ser o retrato que melhor vislumbre transmite acerca de uma banda tão adorada como odiada e, não raras vezes, incompreendida.
Cinco das interpretações são videoclips filmados em estúdio e onde as tendências teatrais e arty do colectivo transparecem de sobremaneira. Realce obrigatório para a atmosfera film noir de She's In Parties e para o lúgubre e tétrico Mask
As restantes interpretações foram captadas ao vivo, sendo neste contexto que o quarteto britânico debita todo o seu carisma e intensidade. Da guitarra reptiliana e dissonante de Daniel Ash, aos frémitos enérgicos e aracnídeos de Peter Murphy (o tal que alguém apelidou de filho impossível de David Bowie e Iggy Pop), passando pela presença mais sóbria - mas sempre sólida - da secção rítmica composta pelos irmãos Haskins (Kevin e David J), o palco é o principal elemento de cristalização.
O propulsivo e vertiginoso In The Flat Field e a soturnidade fantasmagórica de Hollow Hills mostram bem as duas faces distintas da banda, algures entre o punk mais visceral e a austeridade sombria. O destaque óbvio vai para o imortal Bela Lugosi's Dead, hoje e sempre capaz de arrancar calafrios por entre o dub moribundo, o ritmo esquelético e a voz espectral.
Shadow of Light foi reeditado em DVD em 2005, em conjunto com a filmagem integral de um concerto ao vivo denominado Archive. Sem dúvida, um excelente complemento, embora a edição original continue a ser a referência ideal para quem procure conhecer visualmente a curta, mas marcante, história dos Bauhaus.



                            

23 de janeiro de 2017

Flyer's Not Dead

Sex Pistols, The Damned, Heartbreakers, The Clash at Leeds Polytechnic. 1976


O Tumblr continua a ser um relicário fértil em surpresas. Desta feita, a sugestão recai sobre uma página exclusivamente dedicada a velhos flyers de concertos punk. Um autêntico mar de delícias para apreciadores do género em todas as suas facetas e ramificações, Old Punk Flyers reúne centenas de peças que evocam o melhor do espírito do it yourself dos primórdios do movimento. Não deixa, certamente, de ser arte. Não deixamos, igualmente, de nos sentir violentamente nostálgicos a apreciá-la.

2 Minutos de Jaki




Pausa para lembrar Jaki Liebezeit, figura tantas vezes presente e influente neste blog. Um homem simpático, humilde e despretencioso, que juntava a estas qualidades o facto de ser o melhor baterista da sua geração. Tive o imenso prazer de ver o Homem Máquina tocar diversas vezes, bem como a honra de trocar algumas palavras com ele. A última vez foi no Out.Fest de 2016, onde, mais uma vez, deslumbrou com o magnetismo hipnótico do seu estilo único. Nunca pensei que a foto que tirei acima seria a derradeira... Ruhe in Frieden, Jaki.


                 

22 de janeiro de 2017

Rumo ao Cume

Mike Oldfield Hergest Ridge - 1st UK vinyl LP album (LP record ...Mike Oldfield nunca escapou verdadeiramente ao êxito massivo de Tubular Bells. O disco de estreia do guitarrista britânico - editado em 1973 - foi, simultaneamente, uma benção e uma maldição. Projectou o músico para uma ribalta inesperada aos 20 anos de idade, mas colou-se-lhe como uma sombra para os anos vindouros da sua carreira. As notas de piano iniciais, que começaram por ser usadas no filme The Exorcist, de William Friedkin, tornaram-se a imagem de marca instantânea do músico inglês e a peça constitui um capítulo incontornável da história da música popular do século XX. Oldfield revisitaria mais vezes Tubular Bells ao longo dos anos, editando sequelas em 1992 e 1998 e chegando mesmo, em 2003, a apresentar uma regravação integral da obra. Pode soar a cansativo e desinspirado, mas nunca deixou de ser lucrativo...
Mas voltemos a 1973 e à ressaca do sucesso da primeira experiência a solo de Mike Oldfield. Até esse momento, o músico tinha somente editado um álbum - em 1969 -, pacata aventura pelos meandros da folk, em parceria com a sua irmã Sally Oldfield e intitulado Children of the Sun. O duo adoptou o nome The Sallyangie e esfumou-se tão depressa como surgiu. Oldfield rumou ao rock e acabou por engrossar as fileiras dos Whole World, banda de suporte a Kevin Ayers, em 1970. Contudo, os dotes e prestações do jovem guitarrista, acentuaram-se progressivamente, até se revelarem grandes demais para os limites de um grupo.
Na ressaca de Tubular Bells, o relativamente discreto Oldfield encontrava-se cansado da constante atenção do público e dos media, pelo que enveredou por um período de recolhimento. Nestes casos, é sobejamente conhecido o poder terapêutico da ruralidade. Em frente à casa que o músico encontrou para se refugiar e encontrar, algures na fronteira entre a Inglaterra e o País de Gales, erguia-se um monte denominado Hergest Ridge. E foi nesta paisagem campestre, remota e ancestral que uma nova obra-prima foi desenhada. Mais contida e introspectiva, é certo, mas dotada de uma elevação estética incomparável no legado artístico do seu compositor.
Na parafernália constante do rock progressivo da época, Oldfield deu primazia a instrumentos tradicionais como o tin whistle e o bandolim, assim como a uma sóbria mas pungente secção de sopros. A guitarra, essa, seria sempre a rainha, quer em formato acústico ou distorcida pela electricidade.
Editado em 1974, Hergest Ridge divide-se em duas extensas peças, carregadas de atmosferas ancestrais, pastorais e bucólicas. Em última instância, acaba por ser um disco de pendor ambiental, mas cuja beleza ofuscante nos chama constantemente a atenção para a paisagem sonora que nos envolve. Como se o ouvinte fosse convocado para imiscuir-se nela e não apenas para contemplá-la à distância.
A primeira parte do disco ouve-se como se de uma caminhada se tratasse, uma travessia lenta, acidentada e plena de contrastes, rumo ao cume. Soa a música saída da terra, inspirada no verde intocado e na pureza inebriante do ar. A descrição natural high assenta-lhe que nem uma luva.
A segunda parte evoca a chegada ao cume e a contemplação. A melodia que brota nos primeiros minutos será, decerto, a mais bela que Oldfield alguma vez conjurou. Um misto de emocionalidade e retraimento, deslumbramento e introspecção. Impera uma guitarra acústica, à qual se juntam vozes luminosas, como uma solarenga manhã de Inverno. A música é fria, mas reconfortante. Entretanto, o bucolismo cede lugar à feérica intensidade eléctrica e o sol fixa-se no zénite para depois deixar a sua luz esmorecer gradualmente e ceder às texturas serenas e melancólicas que nunca abandonam verdadeiramente a música.
Hergest Ridge é, em suma, um disco de fuga. Um regresso ao conforto do imutável, ao labirinto onde gostamos de entrar e deambular, mas cuja saída conhecemos. Mike Oldfield regressaria ao mundo real e a novas consagrações e Hergest Ridge seria alvo de luxuosa recauchutagem em 2010. Porém, as duas composições do ponto de paragem original e a beleza do seu imaginário continuam a bastar como local ideal para nos refugiarmos e encontrarmos.

17 de janeiro de 2017

Private Neil


Waging Heavy Peace - Livro - WOOK



When I was young, I never dreamed of this. I dreamed of colours and falling, among other things. Assim arranca o prefácio de Waging Heavy Peace, a primeira - e única, até à data - autobiografia de Neil Young, editada em 2012. Na senda destas palavras e com o subtítulo A Hippie Dream, o livro empreende uma reflexão pungente dos aspectos mais recatados da vida do músico canadiano. A sua família, hobbies, obsessões e meditações desfilam em ruminações algures entre o improviso e o imprevisto. O estilo narrativo é não-linear, não obedece a regras temporais e saltita evocativamente entre memórias.
A carreira musical de Young raramente aparece em primeiro plano ou envolta em ostentação. Estão presentes, contudo, relatos estilhaçados e breves como polaroids dos seus primórdios artísticos nos seminais Buffalo Springfield, da ascenção à fama em conjunto com Crosby, Stills & Nash e da sua consolidação a solo.
Na sua essência, Waging Heavy Peace não é um livro para neófitos. Dirige-se, sobretudo, a admiradores de longo curso em busca de saber do homem que vive para além da arte. Ao longo desta obra absorvente, a pena de Neil Young desvela amores e fraquezas, medos e paixões, por vezes surpreendentes, por vezes hilariantes, mas sempre com honestidade. Outra coisa não seria de esperar de alguém que afirma ter decidido escrever o livro após partir um dedo do pé à beira da piscina...

15 de janeiro de 2017

Kosmische Kosmetik XLIX

Die Grüne Reise ou The Green Journey foi o primeiro álbum produzido pelo guitarrista Achim Reichel após o abandono dos popularíssimos (pelo menos na República Federal Alemã) The Rattles. Esta banda chegou a ganhar o epíteto de Beatles germânicos devido às similaridades como os Fab Four de Liverpool, mas sempre mais no estilo que na substância. O agrupamento que Reichel reuniu para iniciar a sua nova trajectória musical não reteve, certamente, tais paralelismos, a não ser, talvez, uma saudável obsessão por Tomorrow Never Knows ou Revolution nº 9. Denominados A.R. & Machines, constituem um dos colectivos mais originais, inovadores e interessantes das franjas do rock teutónico mais arrojado.
Die Grüne Reise foi primariamente idealizado como uma banda-sonora para um filme imaginário e parece ter o poder de penetrar em todos os neurónios do ouvinte em simultâneo. Ataca em todas as frentes como onda que desfaz castelos de areia, não deixando destroços à sua passagem, mas sim novas geometrias mentais. Flui em registo contínuo, sem pausas, num caudal sonoro que aumenta e diminui de intensidade, sem nunca perder a sua essência pulsante e encantatória.
A sonoridade de Die Grüne Reise assenta num cocktail de rock enraizado nos blues e uma carga psicadélica capaz de implodir qualquer cérebro mais incauto. É, em suma, um disco sensitivo e policromático, que nos envolve mental e fisicamente. A abertura com Globus (Globe) dá-se num crescendo rítmico repetitivo e guitarras espiraladas que culminam em espasmos psicadélicos, tudo no espaço de três minutos, e que desembocam no hard rock insinuante e alucinogéneo de In the Same Boat (Im Selben Boot)Schones Babylon (Beautiful Babylon) é o ponto de convergência entre ambas e, por esta altura, a contaminação sonora já se consumou.
I'll Be Your Singer - You'll Be My Song (Ich Bein Dein Sänger, Du Bist Mein Lied) envereda por guitarras acústicas e percussão orgânica e aproxima-se dos territórios trilhados pelos Can. Body e A Book's Blues são dois intróitos que acrescentam bizarria à já hiperactiva toada do álbum, sendo a primeira uma colagem de guitarra, percussão e voz e a segunda um exercício de blues estranhamente convencional.
Als Hätt Ich das Älles Schon Mal Gehesen (As If I Had Seen This All Before) retoma o curso sonâmbulo da viagem (trip?) verde, enaltecendo a paisagem sónica com electrónicas transcendentes. Cosmic Vibration não se afasta do rumo e as guitarras envolvem-nos em ecos vertiginosos, por entre o ritmo e a electrónica fustigantes. Come on People arrasta consigo ecos do rock da West Coast americana, calorosos e vibrantes e a jornada chega ao fim em Wahrheit und Wahrscheinlichkeit (Truth and Probability). Aqui perdem-se quaisquer elos de ligação com a realidade e o tema move-se fora da gravidade, entre vozes fantasmagóricas e absurdas - que poderiam ter sido conjuradas por Ligeti - e electricidade em ebulição. Alucinante, distorcida e desafiante, a peça parece ser um negativo da restante toada do álbum, voltando-nos para uma surreal introspecção.
Die Grüne Reise é, em suma, um dos grandes clássicos da primeira fase do krautrock. Uma obra inovadora, que ainda hoje soa muito à frente do ano em que foi editada (1971) e cuja influência não pode ser desdenhada. Consta, inclusive, que Brian Eno se inspirou nela para a sua própria obra-prima Another Green World, pelo que não faltam razões para dar a Die Grüne Reise o realce merecido.
De salientar igualmente que a produção aqui abordada diz respeito à reedição do disco levada a cabo em 2007. O alinhamento é ligeiramente diferente da primeira edição em vinil, considerando-se, contudo, definitivo. Esta versão remasterizada do álbum apresentou-se acompanhada de um DVD, fazendo jus ao objectivo primário da obra: um filme produzido por estudantes universitários alemães e que permite, finalmente, experienciar Die Grüne Reise em toda a sua plenitude.


             


2 de janeiro de 2017

2016: A Soundtrack




Por motivos deliberados, esperei por 2017 para desvendar as minhas escolhas musicais de 2016. Seria bom que o ano agora morto e enterrado fosse erradicado da memória colectiva. Infelizmente não será assim. 2016 foi uma ponte, um trilho de fogo aberto no tempo e que, à falta de maiores desgraças, prenunciou friamente o futuro próximo.
O ano que nos roubou David Bowie, Leonard Cohen e Prince, presenteeou-nos com o Brexit e colocou o pató Donald Trump à frente dos destinos da nação mais poderosa do mundo. Para além de ter sido bissexto, foi também bipolar. Já terminou, mas deixou traumas difíceis de extinguir. Salve-se o tricampeonato para o Sport Lisboa e Benfica, momento de paradoxal regozijo num lodaçal quase permanente de desgraças.
Musicalmente, além do luto motivado pela perda de nomes sobejamente influentes e consagrados, algumas centelhas surgiram cujo fulgor iluminou o negrume. Há uma nova fornada de cantautores pronta a encantar e os produtos surgidos do Rap/Hip-Hop assumem-se cada vez mais como laboratórios sonoros e fonte da verdadeira originalidade da música desta segunda década do milénio. Não obstante, a aura dos mestres - os que lutam, os que perderam e os que nós perdemos - continua a projectar uma extensa e inescapável sombra na arte sonora do presente. 2016 foi um ano em que passado, presente e futuro se fundiram como raras vezes. Eis a banda-sonora que me ajudou a enfrentar cada dia.


1. David Bowie - Blackstar

2. Radiohead - A Moon Shaped Pool

3. Nick Cave & The Bad Seeds - Skeleton Tree

4. Angel Olsen - My Woman

5. Solange - A Seat at the Table

6. Anohni - Hopelessness

7. Bon Iver - 22, A Million

8. Shirley Collins - Lodestar

9. Leonard Cohen - You Want It Darker

10. Frank Ocean - Blonde

11. PJ Harvey - The Hope Six Demolition Project

12. Elza Soares - A Mulher do Fim do Mundo

13. Anderson.Paak  - Malibu

14. Let's Eat Grandma - I, Gemini

15. Car Seat Headrest - Teens of Denial

16. Beyoncé - Lemonade

17. Kanye West - The Life of Pablo

18. Brian Eno - The Ship

19. DIIV - Is The Is Are

20. Iggy Pop - Post Pop Depression

21. Jenny Hval - Blood Bitch

22. Danny Brown - Atrocity Exhibition

23. Cass McCombs - Mangy Love

24. Chance The Rapper - Coloring Book

25. Thee Oh Sees - A Weird Exits

26. A Tribe Called Quest - We Got It From Here... Thank You 4 Your Service

27. James Blake - The Colour in Anything

28. Parquet Courts - Human Performance

29. Ryley Walker - Golden Sings That Have Been Sung

30. Blood Orange - Freetown Sound

31. Christine And The Queens - Chaleur Humaine

32. Lambchop - FLOTUS

33. Sturgill Simpson - A Sailor's Guide to the Earth

34. Savages - Adore Life

35. The Avalanches - Wildflower

36. Weyes Blood - Front Row Seat to Earth

37. Kaytlin Aurelia Smith - EARS

38. Moor Mother - Fetish Bones

39. The 1975 -  I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful Yet So Unaware of It

40. Gaika - Security

41. Teenage Fanclub - Here

42. Michael Kiwanuka - Love & Hate

43. Anna Meredith - Varmints

44. Yves Tumor - Serpent Music

45. Cavern of Anti-Matter - Void Beats/Invocation Trex

46. Paul Simon - Stranger to Stranger

47. Kevin Morby - Singing Saw

48. Mitski - Puberty 2

49. Wilco - Schmilco

50. Swans - The Glowing Man