1 de março de 2021

Home Sweet Home

Os Stooges tomaram de assalto o Rock norte-americano em 1967, dois anos antes do lançamento do seu lendário e seminal álbum homónimo. Em contra-corrente com a onda flower power da época, o quarteto formado por James Osterberg, Dave Alexander e os irmãos Scott e Ron Asheton ganhou notoriedade pelos seus concertos intensos e performances incendiárias. Muito contribuiu para esse (e)feito a presença em palco do vocalista James Osterberg, anteriormente membro dos Iguanas, banda onde adquiriu o nome que o tornou reconhecido universalmente - Iggy Pop.
O primeiro álbum dos Stooges reflectia, acima de tudo, um mal-estar latente na sociedade americana, principalmente da sua juventude. Temas como 1969 ou No Fun evidenciavam a corrosão interna provocada pela guerra do Vietname e o entorpecimento geral na ressaca de uma década extasiante.
A música era urgente, pesada e visceral. Agressiva mas emotiva. Um grito de revolta e chamada de atenção. Justamente, o disco de estreia de Detroit foi apelidado proto-punk, lançando as sementes para a germinação das bandas rebeldes que se seguiram. Depois deste Punk avant la lettre, nada seria como antes na música popular.
Um ano depois, em 1970, os Stooges provaram não ser uma banda cuja fórmula se esgotou num poderoso e irrepreensível álbum de estreia. O retorno com Fun House é o pináculo da carreira do grupo, um disco genialmente dilacerante, onde a crueza anterior se torna refinada através de uma produção de estúdio certeira, que capta na perfeição o som vívido da banda e que atinge todos os pontos nevrálgicos.
Down on the Street abre o pano com um Blues gingão que se metamorfoseia em Rock duro, delapidado pela guitarra incisiva de Ron Asheton. Tal como o propulsivo 1970, cuja secção rítmica em transe permite à guitarra rasgar seda como uma adaga.
Os gloriosamente caóticos e intensos Loose e T.V. Eye arrastam o ouvinte para um abandono eléctrico, difícil de recuperar e ao qual apetece sempre regressar e dançar até ao esquecimento. Ainda hoje existem dúvidas se Iggy Pop chegou ao fim de T.V. Eye com a laringe inteira...
Dirt é o único momento de relativa calmaria no turbilhão violento de Fun House. Mas igualmente o mais sombrio. Lenta descida por uma espiral sleazy e narcótica, alcança o mesmo nível de pungência e catarse dos restantes temas.
O tema-título coloca na linha da frente o saxofone feérico de Steve Mackay, músico cujos préstimos garantem um travo ainda mais nocturno e urbano a um disco que tresanda a claustrofobia metropolitana. O cunho jazzístico de Fun House é elevado ao extremo na peça que encerra o álbum. L.A. Blues deixa para trás toda a esperança e sorve-nos para um abismo cacofónico e catatónico, em que Rock e Jazz esgrimem argumentos em furioso improviso. 
Mais de 50 anos após a edição de Fun House, é impossível não ficar impressionado e esmagado pela sua ferocidade e intensidade. Além de ser a obra-prima dos Stooges, é um dos melhores discos de Rock de todos os tempos. Muitos tentaram imitar a sua magia negra e fulgurante. Nenhum deles conseguiu.

28 de fevereiro de 2021

Lights, Camera...Revolution!

 



Melhor que um excelente livro, só mesmo um excelente filme. E vice-versa. Easy Tigers, Raging Bulls, subtitulado How the Sex'n'Drugs'n'Rock'n'Roll Generation Saved Hollywood é uma viagem imersiva e fascinante aos meandros do cinema americano dos anos 60 e 70. Editada originalmente em 1998, esta obra do crítico e historiador do cinema Peter Biskind relata a revolução levada a cabo na Meca da sétima arte no seguimento do pós-Segunda Guerra Mundial e no advento da guerra do Vietname. 
Pleno de histórias de bastidores, episódios anedóticos e retratos reais de actores, produtores e realizadores, o livro continua a ser objecto de estudo e culto para todos os cinéfilos e/ou interessados na mudança radical iniciada em Hollywood há 60 anos e perpetrada por beatnicks, hippies, estudiosos entusiastas da Nouvelle Vague francesa e agitadores da contra-cultura norte-americana.
Outro dos méritos de Easy Tigers, Raging Bulls é colocar o leitor como espectador/voyeur no backstage de obras agora seminais e clássicas como Easy RiderThe Exorcist, Taxi Driver ou Apocalypse Now. Os egos, excessos e fragilidade humana das estrelas imaculadamente imortalizadas no grande ecrã desfilam em parada e, até à data, são alvo de controvérsia e acusações de falta de veracidade.

Easy Tigers, Raging Bulls foi objecto de um filme documental em 2003, realizado por Kenneth Bowser e narrado pelo actor William H. Macy. A película constitui um complemento essencial e bem estruturado à obra escrita, contendo depoimentos interessantes e sumarentos de alguns dos principais intervenientes.

Em suma, ambos os documentos proporcionam um trajecto revelador e exaustivo através de uma das épocas mais inovadoras e marcantes do cinema, não só norte-americano, mas mundial. Muito da cultura popular actual e do nosso imaginário colectivo foi construído com base nos filmes desta era dourada/tresloucada. Afinal, quem nunca olhou para o espelho e lançou um "Are you talking to me?"



             

9 de fevereiro de 2021

Good & Bad Vibrations

 



I am Brian Wilson narra a fascinante história do génio musical e criativo que orquestrou a elevação dos Beach Boys a um dos grupos mais marcantes da história da música popular. Escrito na sequência de uma série de entrevistas com o romancista e jornalista Ben Greenman, é uma biografia cândida e intimista que nos ajuda a penetrar na mente tão brilhante como conturbada de um dos maiores escritores de canções vivos.
Através das memórias sem filtro de Brian Wilson, o livro transporta-nos ao longo de uma vida em montanha russa. Períodos incómodos e sombrios - como a relação com o pai abusivo na infância e com o violento e manipulador psiquiatra Eugene Landy -, contrastam com momentos gloriosos e luminosos - a criação da obra-prima Pet Sounds e o casamento com Melinda Ledbetter.
I am Brian Wilson subdivide-se em capítulos intitulados de forma prosaica e directa: Fear, Sun, America, Time... Ao longo de cada um deles, o músico revela a história da sua vida de forma simples e apaixonada, num deslumbramento quase infantil.
A relação com a música ganha óbvio lugar de destaque, sendo fascinante/desconcertante a forma como Wilson descreve as suas inspirações e influências, bem como o método de criação de temas considerados imortais, como os excelsos God Only Knows ou Good Vibrations.
I am Brian Wilson é uma obra fundamental para entender um artista tantas vezes incompreendido como homem e a forma como a arte pode ser um fardo e uma libertação, um anjo e um demónio. As boas e as más vibrações sucedem-se ao longo desta fascinante existência, numa luta constante contra o fantasma da fragilidade psíquica e em busca da paz. 
Neste Inverno que parece nunca mais ter fim e em que a esperança se torna fundamental para enfrentar tempos de doença e medo, estas páginas recuperam memórias de dias felizes, solarengos, de praia e de mar, Verões que a música de Brian Wilson ajudou de sobremaneira a cristalizar no imaginário colectivo. Esperemos que tais dias despreocupados voltem depressa e que as nuvens no horizonte não sejam mais que isso.

6 de fevereiro de 2021

Kosmische Kosmetik LVII

 

O outro projecto musical do multi-instrumentalista alemão Nico Seel intitula-se The Space Spectrum. Aqui, o seu alter ego escapa às influências rítmicas maquinais e à austeridade melódica, enveredando por uma vertente assumidamente cósmica e psicadélica.
The Space Spectrum é forjado na encruzilhada onde o Krautrock e o Space Rock se encontram. Desta feita, as referências imediatas centram-se nos Hawkwind e nos Pink Floyd dos primórdios, mas o improviso trippy de conterrâneos como Amon Düül II encontra-se igualmente latente ao longo dos dez álbuns já editados com o selo do projecto.
O primeiro deles, denominado Cosmic Sounds, remonta a 2011. Tal como na one man band Krautwerk, Nico Seel assegura todos os instrumentos audíveis no disco. A solidão artística imperou até 2013, altura em que, ao sexto álbum, os Space Spectrum se transformaram num quarteto, deixando para trás a aura artesanal, porém charmosa, que caracterizava a sua obra até então.
Cosmic Sounds é um disco pesado e denso, que cobre o ouvinte com um frio manto espacial e o embala ao longo das eternas trevas cósmicas. É composto por quatro longas peças instrumentais, aparentemente indistintas entre si, mas que se desdobram em subtis nuances. The Dead Cosmonaut avança, em constante propulsão, como nave desgovernada a orbitar o vazio. O ritmo é árido. As guitarras, fustigantes.
Lunatic Moon recupera os Hawkwind da fase mais abrasiva - por alturas de Doremi Fasol Latido - e engole-nos numa espiral de guitarras minimais, ritmos hipnóticos e apontamentos electrónicos que vibram como flashes luminosos num escuro caminho.
The Giant Orbit é a peça central de Cosmic Sounds. Tema colossal, é dominado por um riff de guitarra circular e penetrante, ritmos que variam entre o arrastado e o marcial, e a subtil mas omnipresente ornamentação electrónica, que povoa o disco e acentua o psicadelismo gélido da sonoridade.
A fechar, Sleeping Moon acentua a atmosfera desoladora contemplada ao longo de todo o disco. Move-se lentamente, em ritmo funéreo, e as notas da guitarra caem como elegíacas gotas de cristal.
Cosmic Sounds é, acima de tudo, o trabalho de um devoto. De um purista que almeja homenagear as suas raízes musicais e, dessa forma, sentir-se mais próximo e comungar do seu universo. Nico Seel conseguiu tal feito aqui, exemplarmente. Pode sentir-se orgulhoso.

Kosmische Kosmetik LVI

 

O nome não podia ser mais óbvio e, no entanto, soa descaradamente a lugar-comum: Krautwerk. Bebe do movimento musical alemão e de um dos seus grupos seminais. Trata-se de uma one man band criada por Nico Seel, projecto essencialmente artesanal que tem debitado discos em cadência constante desde 2014. 
Além dos Kraftwerk como óbvia referência, o músico germânico presta reverência aos Neu!, e aos Can ao longo dos 7 álbuns lançados até à data, sendo o responsável pela execução de todos os instrumentos que compõem a sua tapeçaria sonora. Todas as obras apresentam semelhanças em termos de forma e conteúdo, constituindo peças quase académicas na forma como estudam e depuram o núcleo da sonoridade austera, motorizada, mas igualmente melódica e emotiva, encapsulada no melhor Krautrock.
1971 é o nome do primeiro álbum de Nico Seel sob o pseudónimo Krautwerk. Explorá-lo auditivamente é uma experiência deveras desconcertante, porém fascinante. Dir-se-ia estarmos perante um disco perdido dos Neu!, gravado algures entre Neu!2 e Neu!75, que ficou conservado em âmbar numa cave escura e foi milagrosamente redescoberto em 2014.
Ao longo de seis peças, somos transportados por um maravilhoso mundo de guitarras reverberantes, ritmos motorik, melodias intrusivas e constantes momentos de deleite abandónico.
Os temas que compõem 1971 não têm título, somente um número. Provavelmente porque o álbum deve ser ouvido como ou todo, exercendo, dessa forma, o seu poder hipnótico e físico. Tal como o melhor dos Neu!, este disco aponta miras ao cérebro e ao corpo em simultâneo, alimentando ambos por igual e convidando a um escapismo sedutor e sem efeitos perniciosos.
Em adição aos seis poderosos e irrepreensíveis temas originais de 1971, as novas edições do álbum contêm mais dois temas, igualmente sem nome e identificadas como VII e VIII. Pese embora apresentarem uma toada mais agressiva e decorada por elementos electrónicos, ambos apenas ajudam a prolongar o prazer sensorial dos apreciadores de tais sonoridades.
Pode ser uma pastiche descarada dos Neu!. Pode ser uma respeitosa homenagem ao duo composto pelo malogrado baterista Klaus Dinger e o guitarrista Michael Rother. Pode ser ainda uma tentativa de replicar a sonoridade dos mesmos em pleno século XXI. Sendo isso tudo, ou nada disso, 1971 é um absoluto deleite.

20 de janeiro de 2021

Kosmische Kosmetik LV

 

Da fornada de projectos que compõem a nova vaga do Krautrock, os Electric Orange ocupam lugar de destaque. Formados em 1992, lançaram, até à data, mais de uma dezena de álbuns, todos revestidos de considerável consistência.
As influências da banda são óbvias e assentam nos cânones omnipresentes do género. Contudo, além de elementos electrónicos derivativos dos Tangerine Dream ou da complexidade rítmica repetitiva dos Can, denota-se a presença subtil de laivos neo-psicadélicos, presentes em grupos como os Ozric Tentacles ou os Loop.
É difícil apontar um pináculo na perene discografia dos Electric Orange. Não obstante, Volume 10, álbum editado em 2014, merece especial destaque.
Desde logo, evidenciam-se perante o melómano mais atento as referências aos Black Sabbath, embora a banda germânica não siga as pisadas dos mestres metaleiros. O título do álbum pisca o olho a Vol. 4, quarto disco da banda de Birmingham, e os títulos dos temas envolvem estranhos jogos de palavras com clássicos Sabbathianos como Paranoid (aqui adulterado para Paraboiled), Snowblind (transformado em Slow Bind) ou Sweet Leaf (aqui denominado Suite Beef).
Se a música presente em Volume 10 não é, de todo, reminiscente de tendências Heavy-Metal, revela uma aura sombria e doses generosas de grooves penetrantes e obnubilantes. A toada é pulsante e constante ao longo do disco, cujas oito peças parecem unir-se simbioticamente, revelando pontuais trechos de destaque.
A parafernália instrumental é extensa, conjugando violino e bandolim com Moog e Mellotron, entre outras promiscuidades sónicas. 
Paraboiled inicia as hostilidades num lento torpor ritualista, quase tribal, que aumenta de intensidade no tema seguinte - Slowblind. Symptom of the Mony Nurse projecta a guitarra para primeiro plano, a qual investe por entre teclados serpenteantes e desemboca em Suite Beef, devaneio em animação suspensa num vácuo escuro, porém etéreo. A vaga melodia hipnótica cola-se à peça seguinte, A Tuna Sunrise, onde guitarra acústica e Mellotron cintilam na escuridão.
Behind the Wall of Sheep retorna aos ritmos circulares e insistentes do início, induzindo ao transe e ao abandono, elevando-se tempestuosamente, para depois cair num murmúrio arrastado, resgatado por ecos electrónicos. Seven and Smell é um interlúdio evanescente, coberto por uma batida marcial. Segue-se Worn Utopia, tema que encerra o disco de forma solene e sombria, dominado por rasgos de improviso que se extinguem no ritmo esquelético e no órgão inerte que anunciam o fim.
Volume 10 é para ser consumido de uma assentada. Mais que um disco, é uma viagem musical, uma longa e estranha trip, que prova que a era dourada do Krautrock não se extinguiu na década de 70 do século XX e ainda pode ser reavivada.

14 de janeiro de 2021

Peixeirada

Antes de aventurar-se numa carreira a solo, Steve Hillage teve o privilégio de tocar com a crème de la crème do rock progressivo britânico no auge do seu maior fulgor criativo.
Tendo iniciado o seu percurso nos obscuros blues rockers Uriel, o guitarrista fez parte da fundação dos Khan (grupo menos preponderante da cena de Canterbury, mas interessante na forma e no conteúdo), integrou a banda de Kevin Ayers e fixou-se nos Gong. Foi neste colectivo que Hillage verdadeiramente desabrochou, fazendo parte do seu line-up mais afamado e acompanhando a sua fase mais excitante e arrojada.
Fish Rising, a estreia a solo do músico, viu a luz em 1975, já depois da sua partida dos Gong, mas contando com a colaboração de vários elementos do grupo.
Simultaneamente expansivas e sofisticadas, as cinco peças que compõem o álbum efluem com um embalo aquático, ora errando ao sabor de texturas complexas e mudanças de ritmo imprevisíveis, ora mergulhando em ambiências intra-uterinas.
Majestoso e suavemente psicadélico, Solar Musick Suite é o tema que abre o disco e nos franqueia as portas para um mundo de deleites auditivos. Uma mini-sinfonia dividida em quatro partes e que se espraia por mais de um quarto de hora, mantendo-se constantemente apelativa e mesmérica. A guitarra de Steve Hillage sente-se como peixe na água, umas vezes serpenteando através de calmas correntes, outras elevando-se por entre fortes vagas.
Seguem-se Fish e Meditation of the Snake, interlúdios formados por estilhaços de improviso e que servem de ponte caleidoscópica para a extática e serpenteante The Salmon Song. Peça onde a guitarra de Hillage se transmuta em gingares de rock e clamores psicadélicos.
Aftaglid encerra o álbum na mesma senda, conjurando a imensidão cósmica e o abandono lisérgico dos Gong. A guitarra entrelaça-se com teclados que oscilam entre o planante e o reverberante, nadando como golfinhos, até ao súbito mergulho final.
A reedição do disco datada de 2007 acrescentou-lhe dois temas suplementares: o primeiro é um belo exercício de rock espacial, adornado por sopros ziguezagueantes e pela voz de Hillage em modo xamânico, denominado Pentagrammaspin. O segundo é uma versão remasterizada de Aftaglid, que não acrescenta nada de extraordinário ao original, mas que se consome com idêntico gosto.
Fish Rising foi o primeiro e inspirado tomo de uma obra extensa e multifacetada, de um músico que tem ultrapassado fronteiras e unido territórios musicais distintos ao longo dos anos, nomeadamente interessantes aproximações à música electrónica. Neste sentido, importa recordar que Steve Hillage foi uma personagem importante no advento da rave culture de finais dos anos 80, tendo formado com Miquette Giraudy (sua colaboradora desde os tempos dos Gong) o seminal duo System 7. Mas isso são outros quinhentos.

8 de janeiro de 2021

2010-2019: A Soundtrack

 




Ainda não se sabe verdadeiramente quando a nova década arranca. Para uns já começou, para outros apenas terá início em 2021. Tendo como referência o New York Times (porque teria que haver uma), a década terminou em 2019. Assim sendo, não poderia deixar de elaborar a lista dos discos que mais me marcaram nos 10 anos que passaram e os que mais revisito. Provavelmente 100 álbuns serão demasiados, mas o mais difícil foi deixar de fora tanta música de qualidade, bela e arrojada, vincada nas suas raízes ou desbravando novos caminhos. Ouçamos, então, sem imperativos de ordem ou tempo.


1. LCD Soundsystem - American Dream (2017)

2. Kanye West - My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010)

3. David Bowie - Blackstar (2016)

4. Nick Cave and the Bad Seeds - Ghosteen (2019)

5. PJ Harvey - Let England Shake (2011)

6. Idles - Joy as an Act of Resistance (2018)

7. The War on Drugs - Lost in the Dream (2014)

8. My Bloody Valentine - MBV (2013)

9. Julia Holter - Have You in My Wilderness (2015)

10. Scott Walker - Bish Bosch (2012)

11. Bon Iver - Bon Iver (2011)

12. Nick Cave and the Bad Seeds - Skeleton Tree (2016)

13. Vampire Weekend - Modern Vampires of the City (2013)

14. Swans - The Seer (2012)

15. Low - Double Negative (2018)

16. Jamie XX - In Colour (2015)

17. St. Vincent - St. Vincent (2014)

18. Radiohead - A Moon Shaped Pool (2016)

19. Weyes Blood - Titanic Rising (2019)

20. The National - High Violet (2011)

21. Tame Impala - Lonerism (2012)

22. James Blake - James Blake (2011)

23. Aphex Twin - Syro (2014)

24. FKA Twigs - Magdalene (2019)

25. Sufjan Stevens - Carrie & Lowell (2015)

26. Kendrick Lamar - DAMN. (2017)

27. Julia Holter - Loud City Song (2013)

28. Sons of Kemet - Your Queen is a Reptile (2018)

29. Beyoncé - Lemonade (2016)

30. John Grant - Queen of Denmark (2012)

31. Beach House - Bloom (2012)

32. Tom Waits - Bad as Me (2011)

33. Kendrick Lamar - To Pimp a Butterfly (2015)

34. Lana del Rey - Norman Fucking Rockwell (2019)

35. Janelle Monáe - Dirty Computer (2018)

36. Arcade Fire - The Suburbs (2010)

37. The War on Drugs - A Deeper Understanding (2017)

38. Angel Olsen - My Woman (2016)

39. Arctic Monkeys - AM (2013)

40. Arcade Fire - Reflektor (2014)

41. Solange - A Seat at the Table (2016)

42. Mitski - Be the Cowboy (2018)

43. Frank Ocean - Channel Orange (2012)

44. The Comet is Coming - Trust in the Lifeforce of the Deep Mystery

45. Slowdive - Slowdive (2017)

46. Joanna Newsom - Have One On Me (2010)

47. Savages - Silence Yourself (2013)

48. Kendrick Lamar - good kid, m.A.A.d city (2012)

49. Kanye West - Yeezus (2013)

50. Robyn - Body Talk (2010)

51. The Weeknd - House of Baloons (2011)

52. Fiona Apple - The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do (2012)

53. Grimes - Visions (2012)

54. Daft Punk - Random Access Memories (2013)

55. David Bowie - The Next Day (2013)

56. Father John Misty - I Love You, Honeybear (2015)

57. The National - Sleep Well Beast (2017)

58. LCD Soundsystem - This is Happening (2010)

59. Anohni - Hopelessness (2016)

60. Purple Mountains - Purple Mountains (2019)

61. Mount Eerie - A Crow Looked At Me (2017)

62. Sun Kil Moon - Benji (2014)

63. Tame Impala - Currents (2015)

64. D'Angelo and the Vanguard - Black Messiah (2014)

65. Beach House - Teen Dream (2010)

66. Frank Ocean - Blonde (2016)

67. Grimes - Art Angels (2015)

68. Swans - To Be Kind (2014)

69. Courtney Bartnett - Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit (2015)

70. Kamasi Washington - The Epic (2015)

71. Björk - Vulnicura (2015)

72. Nick Cave and the Bad Seeds - Push the Sky Away (2013)

73. Deerhunter - Halcyon Digest (2010)

74. FKA Twigs - LP 1 (2014)

75. Fountains D.C. - Dogrel (2019)

76. The Antlers - Burst Apart (2011)

77. Bon Iver - 22, A Million (2016)

78. Gil Scott-Heron - I'm New Here (2010)

79. Lorde - Melodrama (2017)

80. Bill Callahan - Shepherd in a Sheepskin Vest (2019)

81. Arca - Arca (2017)

82. Khruangbin - Con Todo El Mondo (2018)

83. Lana del Rey - Born to Die (2012)

84. Leonard Cohen - You Want it Darker (2016)

85. Björk - Utopia (2017)

86. Shame - Songs of Praise (2018)

87. Jlin - Dark Energy (2015)

88. St. Vincent - Strange Mercy (2011)

89. Angel Olsen - All Mirrors (2019)

90. Oneohtrix Point Never - Replica (2011)

91. Real Estate - Atlas (2014)

92. Billie Eilish - When We Fall Asleep, Where Do We Go? (2019)

93. Kate Bush - 50 Words for Snow (2011)

94. Drake - Take Care (2011)

95. The Knife - Shaking the Habitual (2013)

96. Grouper - Ruins (2014)

97. Preoccupations - New Material (2018)

98. 75 Dollar Bill - I Was Real (2019)

99. Laurel Halo - Quarantine (2012)

100. James Ferraro - Far Side Virtual (2011)


2 de janeiro de 2021

2020: A Soundtrack

 



2020 não foi o pior ano da minha vida. Mas foi, seguramente, o mais estranho. Vazio, paranóico e claustrofóbico. Senti falta das pessoas que mais me importam, das noites despreocupadas, dos cinemas e dos concertos. Compensei usando e abusando da praia e do mar. Mas confesso perversamente que o confinamento forçado permitiu-me ler mais que o antes permitido, ouvir mais música e ver filmes que guardava teimosamente para a "altura ideal". Este ano provou que não existem alturas ideais para nada. Somente o tempo presente. O tempo para fazer o que queremos e o que precisamos. O futuro é incerto, mas guarda sempre a esperança. O passado uma lição que não pode ser esquecida. Crendices e superstições voltaram a proclamar o fim. A ciência, mais uma vez, trouxe a razão. Quando a ciência falha, pede desculpa. Quando a religião falha, arranja desculpas. Este não será, certamente, o fim. Mas também não será o princípio de tempos beatíficos. O conflito existe, é constante. Os retrocessos ao obscurantismo igualmente, seja apregoando castigos divinos ou invocando o fantasma do fascismo. Esperemos que os seres humanos esclarecidos saibam exorcizar as trevas e a desunião.

A música foi, obviamente, muito importante no atípico ano de 2020. Mas nem melhor ou pior que antes. Nenhuma obra-prima esmagou a concorrência ou erigiu, per si, um monumento sonoro indelével. Merece destaque o colectivo britânico Sault, cujos dois álbuns editados no ano que passou condensaram magistralmente o melhor da música afro-descendente, em tempos de inusitado retorno de conflitos raciais. Bob Dylan provou uma vez mais o seu estatuto de mestre intemporal, sempre a gravitar em torno de modas e tendências, mas a cravar o veneno das suas palavras misteriosas e poéticas sem rival à altura. Desde o magnífico Time Out of Mind que Dylan não reunia um conjunto de canções tão esmagadoras. Esperemos que não seja o canto do cisne de voz agreste.
Fiona Apple reuniu igualmente consenso, com mais uma obra onde o experimentalismo e a emoção se conjugam de forma intensa e visceral, merecendo todos os louvores que lhe foram dirigidos.
O Jazz esteve igualmente em destaque. Talvez não aquele que mais agrade aos puristas do género, mas sim através de um estilo ramificado, fusional e aventureiro, favorecendo o futurismo em detrimento do hermetismo.

Foram estes os discos que me acompanharam ao longo do ano zero do surto pandémico. Não me livraram do cepticismo esperançoso, mas farão parte da memória destes tempos de incerteza.


1. Sault - Untitled (Black Is)

2. Sault - Untitled (Rise)

3. Bob Dylan - Rough and Rowdy Ways

4. Fiona Apple - Fetch the Bolt Cutters

5. Perfume Genius - Set My Heart on Fire Immediately

6. Fleet Foxes - Shore

7. Moses Sumney - Grae

8. Fontaines D.C. - A Hero's Death

9. Phoebe Bridgers - Punisher

10. Haim - Women in Music Pt. III

11. Jessie Ware - What's Your Pleasure?

12. Porridge Radio - Very Bad

13. The Strokes - The New Abnormal

14. Waxahatchee - Saint Cloud

15. Thundercat - It Is What It Is

16. Yves Tumor - Heaven To A Tortured Mind

17. Beatrice Dillon - Workaround

18. Destroyer - Have We Met

19. Taylor Swift - Folklore

20. Jarv Is... Beyond the Pale

21. Tame Impala -The Slow Rush

22. Moses Boyd - Dark Matter

23. Róisín Murphy - Róisín Machine

24. The Weeknd - After Hours

25. Run the Jewels - RTJ4

26. Nubya Garcia - Source

27. The Flaming Lips - American Head

28. Bill Callahan - Gold Record

29. Idles - Ultra Mono

30. The Soft Pink Truth - Shall We Go On Sinning So That Grace May Increase?

31. Laura Marling - Song For Our Daughter

32. Sparks - A Steady Drip, Drip, Drip

33. Grimes - Anthropocene

34. U.S. Girls - Heavy Light

35. Khruangbin - Mordechai

36. Bill Fay - Countless Branches

37. Arca - KiCk i

38. Oneohtrix Point Never - Magic Oneohtrix Point Never

39. Shabaka and the Ancestors - We Are Sent Here By History

40. Nick Cave - Idiot Prayer: Nick Cave Alone at Alexandra Palace

41. Rose City Band - Summerlong

42. The Microphones - Microphones in 2020

43. Hum - Inlet

44. Jeff Parker - Suite for Max Brown

45. Mourning [A] Blackstar - The Cycle

46. Moor Mother - Circuit City

47. William Basinski - Lamentations

48. Adrianne Lenker - Songs

49. Adrianne Lenker - Instrumentals

50. Kelly Lee Owens - Inner Song


1 de março de 2020

Post-Post-Punk

Resultado de imagem para meet me in the bathroom book



Meet Me in the Bathroom - Rebirth and Rock and Roll in New York City 2001-2011, livro da jornalista norte-americana Lizzy Goodman, narra a história de um dos períodos musicalmente mais férteis do século XXI.
Tendo como elemento catalisador o infame 11 de Setembro de 2001, a obra descreve como uma série de projectos e bandas iconoclastas ergueram uma cidade em stress pós-traumático através da música e do seu poder catártico.
Meet Me in the Bathroom ergue-se a partir de mais de 200 entrevistas conduzidas pela jornalista aos nomes que despontavam e, entretanto, se cimentaram como referências do Rock alternativo nova-iorquino.
Perante o negrume histórico envolvente, é impossível não considerar a ascensão de colectivos como LCD Soundsystem, Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Interpol ou Vampire Weekend como elementos reactivos e derivativos do Post-Punk surgido três décadas antes.
Tendo a hipster Brooklyn como epicentro de uma revolução que começou por mudar a paisagem musical da Big Apple para depois contaminar o mundo, esta história fascinante é leitura obrigatória para quem sentiu e escutou in loco a pulsação vibrante desta época, bem como para melómanos neófitos, gulosos por uma boa fatia de sonoridades suculentas.

Bush of Fire

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Lembro-me da dança espectral, do olhar esgazeado e da voz acrobática de Wuthering Heights. Lembro-me da dança sensual, da guerreira bárbara semi-nua e do refrão infeccioso de Babooshka.
Lembro-me da dança vanguardista e dos olhos que cantam Running Up That Hill sem necessitarem de palavras.
Lembro-me das canções que vieram a seguir, sempre distantes, sempre familiares, sempre semelhantes a um abraço feminino - seja erótico, maternal ou amigo. Obras brilhantes que me surpreenderam fora de tempo, como Aerial ou 50 Words For Snow.
Este documentário da BBC relembrou-me tudo. Kate Bush foi a primeira mulher que me seduziu e deslumbrou. E não há amor como o primeiro.



           

28 de fevereiro de 2020

Wörd of Möuth

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The Guts and the Glöry é um documentário de 2005 que retrata a história dos míticos Motörhead. A peculiaridade do filme é que o mesmo assenta, única e exclusivamente, em relatos na primeira pessoa, dos músicos mais importantes da banda britânica.
Rodado maioritariamente num pub - ambiente mais que típico e apropriado -, The Guts and the Glöry mostra Lemmy, Phil Taylor, Eddie Clark e Phil Campbell a narrarem a sua saga de modo informal e pleno de episódios anedóticos.
Particularmente interessante é a forma como Lemmy e Phil Taylor vão ficando progressivamente embriagados ao longo do filme. Mais Rock'n'Roll que isto é impossível. Now watch it!