1 de março de 2014

Movimento Perpétuo




Ainda faltam alguns meses para nova edição do Jazz em Agosto, o mais importante, histórico e pertinente festival de jazz realizado em terras lusitanas. As 30 edições cumpridas no ano transacto culminaram com a edição do livro Partidas/Chegadas - Novos Horizontes no Jazz, uma resenha dos nomes mais relevantes que actuaram no festival ao longo da sua história. 
A obra, assinada por Stuart Broomer, Brian Morton e Bill Shoemaker, acaba por transcender a homenagem ao evento que, com o passar dos anos, se tornou cada vez mais ilustre e incontornável. Consegue igualmente funcionar como súmula das evoluções e revoluções que o jazz sofreu ao longo das últimas três décadas e que os palcos da Fundação Calouste Gulbenkian conseguiram, muitas vezes arrojada e audaciosamente, difundir.
Basta passar os olhos pela capa para ver que o material é mistura fina. De Anthony Braxton a Sun Ra, de Ornette Coleman a John Zorn, muitos são os vultos incontornáveis deste género musical objecto de dissecação e dissertação. Sob a pena dos três experts supracitados, sucedem-se pequenas biografias desses grandes nomes, assim como uma discografia selectiva e recomendada. Partidas/Chegadas - Novos Horizontes no Jazz é uma obra sólida e fundamental para o entendimento do jazz de vanguarda e do perpétuo movimento que o faz parecer sempre imutável mas também sempre novo.

An Alien in London

                                            


Dont Look Back documenta a primeira tournée de Bob Dylan por terras do Reino Unido em 1965. Filmado por D.A. Pennebaker, algures entre o cinèma verité e o expressionismo, traça um retrato do cantautor norte-americano no crescendo popular e crítico que sucedeu a uma das suas primeiras obras-primas: Bringing It All Back Home.
Ao longo do filme, Dylan desfila, ora esfíngico e fleumático, ora arrogante e sanguíneo, conquistando audiências, repelindo admiradores, destilando emoção/desdém perante o talento notório de Donovan e deixando antever a presumível separação de Joan Baez (nesta altura mais uma partenaire que uma amante).
A folk americana invade a swinging London, e Dylan, vestido de preto, envergando óculos escuros como se o dia ou a noite fossem iguais para ele, falando e fumando compulsivamente e filosofando e desafiando as convenções, alberga já a aura enigmática e misteriosa que o tornou lendário. Nunca sabemos se estamos a ver o verdadeiro Robert Allen Zimmerman ou apenas uma distorção da sua persona. E é desta matéria que as lendas são feitas. Dont Look Back é um dos melhores filmes musicais de sempre, sobre um dos mais icónicos artistas da história. Simplesmente obrigatório.