20 de agosto de 2009

Danças Cósmicas

Em 2005, os Subway, duo inglês composto por Michael Kirkman e Alan James lançaram um álbum de electrónica com reminiscências dos grandes vultos alemães de 70. Empty Head, assim se chamava o LP, era um laboratório de influências onde a cena Krautrock / Kosmische e os sons mais dançantes do techno de Detroit e do house de Paris se conjugavam num disco extremamente bem conseguido e onde temas como Testing ou Empty Head traziam novamente à ribalta os sons imemoriais da pioneira electrónica germânica.
Agora, em 2009, a dupla regressa com novo upgrade desta tendência e o que resulta é uma obra-prima para os amantes da música analógica, da electrónica etérea, de batidas hipnóticas e de ambientes de perfeita sedução auditiva. Subway II é uma delícia para os indefectíveis do Krautrock. É incrível ouvir alguém recuperar estas sonoridades únicas e devolvê-las onde sempre estiveram: ao futuro. Estes senhores têm os pés assentes no século XXI, mas as mentes parecem conectadas com Berlim ou Düsseldorf no ano de 1975.
O disco abre magistralmente com Persuasion, e desde logo parece que os Harmonia da melhor safra voltaram das brumas do passado para nos envolver na sua onírica teia sonora. A batida motorik e a melodia giratória e espacial, simples mas penetrante, embala-nos e eleva-nos. Segue-se Lowlife, que começa por planar e cintilar ao nosso redor como os Cluster mais atmosféricos, para então se tornar um exercício electro cerebral e lento. Simplex traz à luz reminiscências dos Neu! em velocidade de cruzeiro, apresentando-se minimal e varrida por sintetizadores arcaicos mas viciantes na melodia que debitam. O duo gravou este disco utilizando somente equipamentos analógicos clássicos como o Roland Jupiter 6, Körg MS20, Univox SR55, Roland MKS80 e o Moog Prodigy, o que acentua ainda mais a veia retro-futurista da música. A quarta faixa, que ao denominar-se Harmonia não engana ninguém, rege-se pela ausência quase total de gravidade na qual os cosmonautas sónicos Roedelius e Moebius são mestres. O som mantém-se suspenso, nebuloso, sem princípio, meio nem fim, naquilo que é uma perfeita actualização da electrónica cósmica. Wünderbar...
A tendência galáctica prossegue com Jupiter, que cruza o ambiente frio e espacial com os bleeps e as batidas maquinais, computorizadas e urbanas do techno mais vanguardista de Detroit, como o praticado por Carl Craig ou Jeff Mills. Monochrome desbrava o mesmo território, mas eleva a fasquia experimental, soltando bafuradas de melodia abstracta e orbitando irregularmente ao nosso redor. Nota-se a presença de elementos mais radicais e mentalmente comburentes, deixando marcas dos Mouse on Mars ou cinzas dos To Rococo Rot. Horizon é uma estrela cadente, bela e distante, que intriga ao rasgar o negrume, mas breve demais para contemplar. O regresso a cenários mais dançantes é retomado em Delta II, peça de disco progressivo e interplanetário, que impele estranhamente ao movimento. A terminar, Xam deixa a pairar um perfume a Kraftwerk intercruzado na perfeição com texturas house contagiantes.
Os Subway não são plagiadores, muito menos revivalistas. Tudo o que fazem é música de dança, que soa fresca e inovadora. Misturam todas as influências supracitadas e o que resulta é um composto que apela às pistas, mas que consegue ao mesmo tempo enveredar por atalhos meditativos e, em certos momentos, melancólicos. Como toda a música de qualidade, a que está guardada em Subway II é intemporal. Como todas as bandas e artistas evocados e cuja ressonância ecoa pelas faixas deste álbum, os Subway merecem ser considerados mestres da arte da electrónica cósmica e avant-garde. Uma agradabilíssima surpresa e, definitivamente, um dos melhores discos do ano.