Rezam as crónicas que o líder Robert Smith se encontrava mergulhado em águas depressivas quando o disco veio à tona. Indefinições artísticas, envelhecimento, incompreensão, eis alguns dos fantasmas que Smith invocou para a sua concepção. A desintegração emocional provocada pela confrontação com uma realidade sombria, contrária às expectativas.
Disintegration não é um disco para ouvir de ânimo leve, muito menos com os ouvidos. É algo pesadamente sentimental, que se incrusta no coração como a criatura de Alien. A música é, invariavelmente, arrastada, escura, aquosa e desavergonhadamente romântica. Insistentemente sublime. Os temas são longos e expansivos, com pontuais excepções, como os celebrados e eternos Lovesong e Lullaby, duas das mais perfeitas e irresistíveis criações dos Cure. Mas é como um todo, de uma ponta à outra, que esta obra de arte deve ser consumida. Do prelúdio à tempestade em tons de psicadelismo cinza de Plainsong à melancolia resignada e crepuscular de Untitled. O fim, a ideia de extinção, estão sempre presentes, mais ou menos metafóricos, mas sempre dilacerantes (Pictures of You, Disintegration, Closedown). Prayers For Rain e o monumental The Same Deep Water As You são momentos magistrais de profunda introspecção, tão atmosféricos como intensos. E a depressão torna-se doce no embalo oceânico de música tão onírica.
Se Disintegration não fosse um disco dos Cure, provavelmente não teria tido o sucesso massivo que conseguiu. Sucesso que deu azo a uma reedição titânica, composta por quatro discos, em 2010. Mais que merecido e ideal para quem não vive sem esta música, da mais bela e triste alguma vez feita. Um milagre sonoro para melancólicos praticantes.