Adquiri este álbum no Verão de 93 e estabeleci desde logo com ele uma relação de atracção-repulsa. Definitivamente, por estas bandas não há sol, apenas um frio metálico. Trata-se de uma hora repleta de bleeps, samples e vozes distorcidas, agressiva e impiedosa, onde a única melodia imperante é a que permite vislumbrar a paisagem do caos por entre um cinzentismo omnipresente e esmagador que atulha tudo e todos. É esse caos escuro e urbano, de atmosfera futurista mas repleto das pulsões mais primárias, que assombra este disco. Cada tema é um estilhaço, um circuito fechado de informação que nos agarra pelo pescoço e nos faz sentir como robots esmagados pelo peso do betão, da competição, da agressividade, perdidos num labirinto virtual que William Gibson decerto apreciaria. Faz lembrar o seu Neuromancer. Evoca a desolação tecnológica de Blade Runner, caso não tivesse sido fabricado em Hollywood.
Houve quem chamasse aos Front 242 Electronic Body Music, ou música de dança para quem não gosta de dançar... Aqui pode dançar-se. Mas como autómatos puxados por cordas ou espantalhos esqueléticos abanados pelo vento. O ritmo existe, forte e penetrante, mas possuído por um nevoeiro de cortar à faca. Regressei a este disco hoje. O mundo exterior alimenta-o mais que nunca. No inlay da sua capa podem ler-se as palavras BURIED IN CONCRETE. Provavelmente, é assim que nos sentimos perante esta música carregada de niilismo urbano e futurismo tenebroso, que assenta que nem uma luva ao Inverno crítico de 2009 e ao mal-estar que (dizem...) vai contaminando a sociedade. Quem tiver coragem, que a ouça bem alta...