Wolfgang Bock é um nome raramente pronunciado quando se fala na escola electrónica alemã, especialmente a berlinense. Este explorador de sons caiu praticamente no esquecimento, mas o seu primeiro disco é um tomo fundamental na enciclopédia da música sintetizada e analógica.
Cycles, de 1980, surge numa altura em que os grandes clássicos do género pareciam estar já editados e serem inultrapassáveis, mas é tudo menos uma revisão decadente da matéria dada.
As comparações com o estilo de Klaus Schulze são, porém, inescapáveis. Ambos comungam da mesma energia planante, da vastidão das paisagens sonoras, da electrónica cósmica e ausente de gravidade. O que Wolfgang Bock traz de novo são fraseados rítmicos que tiram a música da suspensão e a lançam num trilho meteórico. Uma versão algo anfetaminada de Schulze. O tema-título, que abre o disco, define bem esta sonoridade. Arranca em animação suspensa e termina num ritmo pulsante, latejante, de cadente dança estelar. Seguem-se as duas partes de Robsai, a primeira uma delícia física e estimulante de sequenciadores, a segunda uma elegíaca e intensa ode cósmica de curta duração. Changes traz a mudança, para uma melodia luminosa e um ritmo circular, orgânico, que termina às apalpadelas às paredes de um buraco negro.
Stop the World conclui o disco e recupera a cadência hipnótica e a indução ao transe. É um tema que eleva a electrónica cósmica à condição de energizante musical e não ficaria mal numa proto-rave party, salpicada a ácidos e não a ecstasy.
Cycles vale sobretudo por ser uma alternativa mais acessível à caracteristicamente hermética e experimental electrónica germânica sua contemporânea. Mesmo assim, em breve surgiriam as radicais mudanças estéticas trazidas pela década de 80 e este estilo de música foi relegado para um nicho e diluiu-se na paleta berrante desses anos. O epíteto Super Bock não assentaria nada mal a este senhor. Mais que um disco, o fim de um ciclo.