O período pós-punk abordado por Simon Reynolds no seu essencial Rip It Up And Start Again situa-se entre 1978 e 1984, anos curtos mas que deixaram marcas profundas no panorama musical.
O próprio título da obra (surripiado a uma canção de 1982 dos escoceses Orange Juice) indica que foram anos revolucionários. Uma era em que a urgência e visceralidade semeadas pelo punk foram depuradas por estéticas mais elaboradas mas sem perda de intensidade, como se a agressividade e a confrontação se tornassem eruditas. Reynolds, um dos mais esclarecidos e influentes críticos musicais britânicos da actualidade, traça um retrato abrangente e completíssimo do movimento pós-punk, o que resulta num compêndio imprescindível para o entendimento da sua génese e evolução.
Joy Division, Public Image Ltd. ou A Certain Ratio são algumas das muitas bandas deste período dissecadas no livro, projectos que podem ser considerados uma espécie de punk arty e literato, tendo em conta o background académico de muitos dos artistas e as suas referências culturais e intelectuais. Para além do modernismo e experimentalismo inerentes a esta corrente, é palpável também o activismo político que caracterizou os anos imediatamente a seguir ao fenómeno punk. Colectivos como Pop Group ou Gang of Four conseguiram agregar mensagens desafiantes a uma música muitas vezes radical.
Rip It Up And Start Again não se limita a ficar suspenso nesta bolha temporal. Reynolds acaba por acompanhar os destinos de muitos destes músicos vanguardistas, dos que cederam às pressões comerciais dos anos 80 aos que acabaram por desaparecer. O próprio termo pós-punk entrou em criogenia em meados dessa década infame, sendo apenas revisto e actualizado nos princípios do século XXI, com o advento de bandas como Interpol, Franz Ferdinand ou Rapture. A qualidade destes e outros projectos revivalistas veio provar uma vez mais que este movimento, apesar de fugaz, lançou raízes e estabeleceu-se como influente para discípulos desviantes.