Dieter Moebius foi sempre considerado a face mais agreste dos Cluster. A metade mais arrojada e experimental do duo, acrescentando uma paleta de escuridão à luminosidade melódica do seu par Roedelius. Para além desta mítica dupla electrónica, o músico alemão operou em vários projectos e colaborações antes da sua primeira aventura a solo. Harmonia, Liliental e dois discos seminais em parceria com Conny Plank são algumas das referências inescapáveis que antecederam Tonspuren, álbum de 1983 totalmente moldado pela sua mão.
Apesar das semelhanças óbvias com a abstracção electrónica em miniatura dos Cluster mais tardios, Tonspuren possui uma forte identidade própria. A personalidade vincada de Moebius, deixado sozinho, brincando e experimentando com as suas inspirações e intuições. Como se a carne dos Cluster tivesse sido roída, deixando exposta apenas a carcaça, um esqueleto de ambiências minimais e melodias quebradiças.
É um disco que caminha para a noite. Que pede isolamento e abstracção. Maioritariamente sombrio, começa com esparsos estilhaços de luz e cor. Os três primeiros temas, Contramio, Hasenheide e Rattenwiesel, são os que mais se aproximam da estética dos Cluster de Zuckerzeit ou Sowiesoso. Depois o crepúsculo começa a erguer-se lentamente, abafando luz e cor num manto progressivamente cinzento. Transport é veículo subterrâneo que serpenteia por túneis industriais. Nervös faz juz ao nome, destilando paranóia rítmica e melodia opressiva. A tensão prolonga-se na dança com as sombras que é B 36 e culmina no palpitar gélido de Sinister. Surgem pistas para o que seria o advento da techno mais densa e minimal em Etwas e Immerhin é escolástica na forma como mistura polidez estética a estertores colaterais.
Tonspuren significa banda-sonora em português. À la lettre, seria certamente a música ideal para um filme de espionagem a preto e branco passado em Berlim ou na Moscovo da Guerra Fria. Despida de interpretações, é um compêndio da importância e influência de Dieter Moebius nas linguagens electrónicas contemporâneas.
É um disco que caminha para a noite. Que pede isolamento e abstracção. Maioritariamente sombrio, começa com esparsos estilhaços de luz e cor. Os três primeiros temas, Contramio, Hasenheide e Rattenwiesel, são os que mais se aproximam da estética dos Cluster de Zuckerzeit ou Sowiesoso. Depois o crepúsculo começa a erguer-se lentamente, abafando luz e cor num manto progressivamente cinzento. Transport é veículo subterrâneo que serpenteia por túneis industriais. Nervös faz juz ao nome, destilando paranóia rítmica e melodia opressiva. A tensão prolonga-se na dança com as sombras que é B 36 e culmina no palpitar gélido de Sinister. Surgem pistas para o que seria o advento da techno mais densa e minimal em Etwas e Immerhin é escolástica na forma como mistura polidez estética a estertores colaterais.
Tonspuren significa banda-sonora em português. À la lettre, seria certamente a música ideal para um filme de espionagem a preto e branco passado em Berlim ou na Moscovo da Guerra Fria. Despida de interpretações, é um compêndio da importância e influência de Dieter Moebius nas linguagens electrónicas contemporâneas.