Em 1972, ano insuflado por odisseias sinfónicas de rock progressivo, irromperam os Roxy Music, destilando canções de 3 minutos como Virginia Plain ou Pyjmarama, decretando um boicote ao supérfluo e recuperando a urgência do momento. Juntamente com o Bowie de Ziggy Stardust e os T-Rex de Bolan e o seu Electric Warrior, devolveram a lascívia ao rock, desta feita de forma premeditadamente arty, encenada, cinemática. Se o primeiro álbum da banda londrina era um oásis num deserto de solos de guitarra intermináveis e peças que ocupavam o lado inteiro de um vinil, se a própria imagem dos seus membros (do dandy futurista Bryan Ferry ao alien andrógino Brian Eno, passando pelos óculos de mosca de Phil Manzanera) era radicalmente diferente e inovadora para os standards da época, a sua segunda aparição solidificou o pouco que remanescia líquefeito.
There's a new sensation / A fabulous creation... As duas primeiras estrofes de Do The Strand, tema que abre For Your Pleasure, são indicativas do que se segue. O disco de 1973 pode bem ser a criação mais fabulosa dos Roxy Music, aquela que encontra o grupo no pico dos seus poderes. Onde o classicismo melódico e requintado de Ferry se cruza na perfeição com o experimentalismo vanguardista de Eno.
Supostamente, Do The Strand pretende ser um incentivo à dança com o mesmo nome. Uma dança desconhecida, sob um ritmo enérgico e uma letra críptica, debitada incansavelmente. Um clássico hoje, mas uma bizarria no panorama musical de 1973.
A mesma mistura de familiaridade e estranheza percorre o álbum, flagrantemente acessível mas distorcidamente maquilhado. É inegável a afinidade com o krautrock, mais especificamente os Can, no longo épico minimal e hipnótico The Bogus Man. A beleza fugaz da juventude e o estrelato efémero de Beauty Queen. A decadência crepitante do genial In Every Dream Home a Heartache, onde um homem que tem tudo ama obsessivamente uma boneca insuflável (Inflatable doll / My roll is to serve you ... I blew up your body / But you blew my mind).
Sem um único tema fraco, do frenesim contagiante de Editions of You às difusas sombras existenciais de Strictly Confidential, For Your Pleasure é um dos álbuns de referência da década de 70 do século passado. Há quem chame a esta música excepcional glam rock, há quem lhe chame art rock. Ambas fazem sentido, mas felizmente aqui a arte sobrepõe-se ao glamour. E quando chegamos ao fim, quando o tema-título começa solenemente a circular à nossa volta, qual canção de embalar com electricidade estática na ponta dos dedos, uma estranha calmaria invade-nos e leva-nos para longe. E arroubamo-nos. E deixamo-nos levar pela fantasia. E acreditamos que o rock pode ser arte.
O conflito de egos entre Eno e Ferry não demoraria a abrir fissuras e o não-músico extravagante e pejado de penas e lantejoulas cedo partiria para uma carreira a solo que moveu montanhas na música como hoje a conhecemos. Ferry prosseguiu a timonar o barco, os Roxy Music continuariam a ser a sua banda e muitos feitos notáveis se seguiram. Mas a sintonia de ideias e a química artística de For Your Pleasure são únicas e irrepetíveis.
23 de fevereiro de 2013
Scottology
Na ressaca de mais um disco desconcertante e incatalogável, Bish Bosch, continua a ser saudável assistir a uma nova vaga de interesse por Noel Scott Engel. Ou Scott Walker, americano por defeito, europeu por virtude, cujo nome adoptado pela banda que primeiro o acolheu nunca mais o deixou em paz e a ele se cola como um alter ego tão notório quanto grotesco. Uma persona que perdura ao longo de tantos anos de inflexões e radicalismos.
O conjunto de ensaios e entrevistas reunido em No Regrets - Writings on Scott Walker não é para neófitos. É para conhecedores e admiradores da estranha arte e dos bizarros métodos de um dos músicos verdadeiramente únicos dos últimos 50 anos. Mais que descritivo, o livro é uma discreta torrente de admiração pelo homem e a sua obra. Uma viagem pelos caminhos tortuosos da sua vida (sempre a artística, porque a pessoal é um perpétuo mistério, alimentado a rumores e mitos) e da música que desovou. Uma música que consegue erguer-se aos píncaros do belo para depois cair a pique no mais aterrador dos pesadelos.
Do advento dos Walker Brothers à abismal feitura de The Drift, No Regrets conta com o contributo de grandes nomes da escrita musical realmente importante da actualidade, como Rob Young (o editor), David Stubbs, Ian Penman ou David Toop (que assina um texto brilhante). Com a chancela de qualidade da revista Wire, o livro é essencial para os seguidores de Scott - homem, mito e magia.
5 de fevereiro de 2013
Sons Frondosos
O Verão de 1999 foi invadido e sarapintado pelos sons sobrenaturais dos Olivia Tremor Control. A música bela e surreal dos norte-americanos, mergulhada em mares lisérgicos e domando magistralmente o psicadelismo, ganhou corpo num disco sem tempo, uma obra-prima chamada Black Foliage: Animation Music Vol. 1.
A dimensão onírica que povoa este registo não acontece por acaso: durante meses, os Olivia Tremor Control inspiraram-se em excertos de sonhos pedidos aos seus fãs. Fizeram gravações de campo ao melhor estilo da música concreta e adicionaram-lhes as suas melodias alucinogéneas, o que resultou num disco tão encantador como exploratório e esquizofrénico.
Black Foliage é, efectivamente, atravessado por diversas camadas de consciência, sucessivas clivagens e ambiências caleidoscópicas de sonhos despertos e abismos ilusórios.
Um surrealismo derivado de Dali transborda da capa e, se a música tivesse cor, a dos Olivia Tremor Control seria uma explosão clara e escura, multicolorida. A máquina psicadélica de sons estranhos e indefiníveis não pára de mover-se, orquestrando uma teia ao longo dos 27 temas que compõem o disco. No imediato, surgem à ideia Magical Mystery Tour dos Beatles e o mítico Smile dos Beach Boys, obras que encerram o espírito de estios tão imaculados como intoxicados. As melodias mais deliciosas e sumarentas são intercaladas por momentos de puro delírio que desafiam as convenções. As vocalizações erguem-se, harmónicas e emotivas, mas ao mesmo tempo distantes e a riqueza de detalhes é uma constante, o que impede que o disco seja absorvido numa única audição. Exige tempo e abertura mental para deixar escorrer a sua luxuriante torrente musical.
A Familiar Noise Called "Train Director", Hideaway, A Sleepy Company, I Have Been Floated, Black Foliage (Itself), The Sylvan Screen, California Demise (3) e Hilltop Procession (Momentum Gaining) são estilhaços imprescindíveis em qualquer vitral psicadélico de excelência. Obras-primas absolutas na arte de criar pequenas canções fervilhantes de sonho e fantasia. Tal como o precipício demencial de The Bark and Below It, o negativo escuro e labiríntico das luminosas florestas sónicas que com ele coabitam.
Music for the Unrelased Film Script: Dusk at Cubist Castle, o primeiro álbum dos Olivia Tremor Control, é também muitíssimo aconselhável. Mas é no seu sucessor que a banda da Louisiana depura a sua arte, se revela em pleno e nos arrebata sem pudor nem misericórdia. Já disse que é uma obra-prima? E o Verão que nunca mais chega...
A dimensão onírica que povoa este registo não acontece por acaso: durante meses, os Olivia Tremor Control inspiraram-se em excertos de sonhos pedidos aos seus fãs. Fizeram gravações de campo ao melhor estilo da música concreta e adicionaram-lhes as suas melodias alucinogéneas, o que resultou num disco tão encantador como exploratório e esquizofrénico.
Black Foliage é, efectivamente, atravessado por diversas camadas de consciência, sucessivas clivagens e ambiências caleidoscópicas de sonhos despertos e abismos ilusórios.
Um surrealismo derivado de Dali transborda da capa e, se a música tivesse cor, a dos Olivia Tremor Control seria uma explosão clara e escura, multicolorida. A máquina psicadélica de sons estranhos e indefiníveis não pára de mover-se, orquestrando uma teia ao longo dos 27 temas que compõem o disco. No imediato, surgem à ideia Magical Mystery Tour dos Beatles e o mítico Smile dos Beach Boys, obras que encerram o espírito de estios tão imaculados como intoxicados. As melodias mais deliciosas e sumarentas são intercaladas por momentos de puro delírio que desafiam as convenções. As vocalizações erguem-se, harmónicas e emotivas, mas ao mesmo tempo distantes e a riqueza de detalhes é uma constante, o que impede que o disco seja absorvido numa única audição. Exige tempo e abertura mental para deixar escorrer a sua luxuriante torrente musical.
A Familiar Noise Called "Train Director", Hideaway, A Sleepy Company, I Have Been Floated, Black Foliage (Itself), The Sylvan Screen, California Demise (3) e Hilltop Procession (Momentum Gaining) são estilhaços imprescindíveis em qualquer vitral psicadélico de excelência. Obras-primas absolutas na arte de criar pequenas canções fervilhantes de sonho e fantasia. Tal como o precipício demencial de The Bark and Below It, o negativo escuro e labiríntico das luminosas florestas sónicas que com ele coabitam.
Music for the Unrelased Film Script: Dusk at Cubist Castle, o primeiro álbum dos Olivia Tremor Control, é também muitíssimo aconselhável. Mas é no seu sucessor que a banda da Louisiana depura a sua arte, se revela em pleno e nos arrebata sem pudor nem misericórdia. Já disse que é uma obra-prima? E o Verão que nunca mais chega...
Chancelaria
A excelente editora alemã Bureau B reeditou recentemente o primeiro álbum dos seus conterrâneos hamburgueses Palais Schaumburg. O disco, datado de 1981, é uma das obras de charneira da Neue Deutsche Welle, a resposta teutónica ao pós-punk britânico. Tão dançável como cerebral, tão cativante como esquisito, Palais Schaumburg ainda hoje intriga e desarma. É um disco tão alemão na sua estética formal como anti-alemão na mensagem.
A génese do grupo incluiu dois nomes maiores da modernidade musical da nação: o mestre da samplagem Holger Hiller, aqui encarregue da guitarra e das vocalizações entre o histriónico e o acossado, e F.M. Einheit, futuro baterista dos Einstürzende Neubauten. O primeiro abandonou a banda para seguir uma carreira a solo pouco depois do lançamento do álbum de estreia. O segundo saiu ainda antes disso. Esta perda progressiva de elementos fundamentais fez com que os Palais Schaumburg fossem perdendo qualidades até colocarem um ponto final na sua existência em 1984, após três álbuns e uma mão-cheia de singles. Merece, no entanto, destaque Moritz von Oswald, um dos maiores nomes da electrónica dançante da actualidade e que foi igualmente percussionista do grupo na sua derradeira fase.
Algures entre o tratamento esquelético e minimal que os A Certain Ratio deram ao funk e o rock experimental dos This Heat, Palais Schaumburg instala-se no sistema nervoso do ouvinte como uma agulha fina que penetra a pele e por lá se move sem nunca trespassar a carne. Wir Bauen Eine Neue Stadt é o tema que abre o disco e o único single dele extraído. Um festival de irreverência anárquica, com ritmo espasmódico e vídeo a condizer:
Gute Luft e Deutschland Kommt Gebräunt Zurück surgem depois, estranhamente dançáveis, inadaptados mas acessíveis. Die Freude e Eine Geschichte incorporam os ritmos ossudos e os baixos angulares pelos quais a banda se notabilizou, assim como as demenciais vocalizações de Holger Hiller, a meio caminho entre David Thomas e David Byrne. Hat Leben Noch Sinn? é quase disco mutante, uma marcha militar a trilhar a pista de dança. E Madonna pode bem ser o melhor momento do álbum, um tremendo exercício de frenesim rítmico, impregnado de frieza eufórica.
A edição deluxe de Palais Schaumburg acrescenta-lhe prestações ao vivo, bem como os primeiros singles da banda, onde a estética se começou a delinear e peças imprescindíveis para compreender a sua evolução. Fica a interpretação de um deles, Telephon, envolta numa atmosfera quase expressionista e um belo atestado das capacidades do quarteto. Que entretanto se reuniu na formação original, voltando a espalhar brasas pelos palcos que tiverem o arrojo de os acolher.
A génese do grupo incluiu dois nomes maiores da modernidade musical da nação: o mestre da samplagem Holger Hiller, aqui encarregue da guitarra e das vocalizações entre o histriónico e o acossado, e F.M. Einheit, futuro baterista dos Einstürzende Neubauten. O primeiro abandonou a banda para seguir uma carreira a solo pouco depois do lançamento do álbum de estreia. O segundo saiu ainda antes disso. Esta perda progressiva de elementos fundamentais fez com que os Palais Schaumburg fossem perdendo qualidades até colocarem um ponto final na sua existência em 1984, após três álbuns e uma mão-cheia de singles. Merece, no entanto, destaque Moritz von Oswald, um dos maiores nomes da electrónica dançante da actualidade e que foi igualmente percussionista do grupo na sua derradeira fase.
Algures entre o tratamento esquelético e minimal que os A Certain Ratio deram ao funk e o rock experimental dos This Heat, Palais Schaumburg instala-se no sistema nervoso do ouvinte como uma agulha fina que penetra a pele e por lá se move sem nunca trespassar a carne. Wir Bauen Eine Neue Stadt é o tema que abre o disco e o único single dele extraído. Um festival de irreverência anárquica, com ritmo espasmódico e vídeo a condizer:
Gute Luft e Deutschland Kommt Gebräunt Zurück surgem depois, estranhamente dançáveis, inadaptados mas acessíveis. Die Freude e Eine Geschichte incorporam os ritmos ossudos e os baixos angulares pelos quais a banda se notabilizou, assim como as demenciais vocalizações de Holger Hiller, a meio caminho entre David Thomas e David Byrne. Hat Leben Noch Sinn? é quase disco mutante, uma marcha militar a trilhar a pista de dança. E Madonna pode bem ser o melhor momento do álbum, um tremendo exercício de frenesim rítmico, impregnado de frieza eufórica.
A edição deluxe de Palais Schaumburg acrescenta-lhe prestações ao vivo, bem como os primeiros singles da banda, onde a estética se começou a delinear e peças imprescindíveis para compreender a sua evolução. Fica a interpretação de um deles, Telephon, envolta numa atmosfera quase expressionista e um belo atestado das capacidades do quarteto. Que entretanto se reuniu na formação original, voltando a espalhar brasas pelos palcos que tiverem o arrojo de os acolher.
4 de fevereiro de 2013
Ópio do Povo
Religulous, documentário de 2008 nascido da parceria entre o comediante Bill Maher e o realizador Larry Charles é, antes de mais, um objecto hilariante. Apesar da temática abordada ter o condão de pôr os cabelos em pé ou os ânimos exaltados a todos os que a defendem: as crenças religiosas e a forma como a religião se encontra organizada.
Ao longo do filme, o comediante confronta seguidores de vários cultos acerca dos princípios e da lógica das suas crenças. A ténue fronteira entre o preocupante e o ridículo está sempre presente nas palavras da maioria dos entrevistados, assim como a improbabilidade de congregações como os Judeus por Jesus ou a Capela dos Camionistas.
Ninguém é poupado à irreverência de Maher. Cristãos, judeus e muçulmanos são escrutinados e as suas crenças viradas do avesso à procura de uma razão para a o que as fez surgir, propagar e serem aceites sem dúvidas ou contestação. No campo teológico, filosófico ou científico, Religulous (óbvio cruzamento entre religion e ridiculous) não pretende demonstrar que é dono da verdade. Acima de tudo assume que não existe verdade nenhuma, e é assim que deve ser visto, como um excelente filme de entretenimento que nos faz rir enquanto nos obriga a reflectir mais seriamente nesta matéria.
1 de fevereiro de 2013
O Pulsar de Reich
Passados 35 anos da sua edição original, Music for 18 Musicians não perdeu nenhuma da sua frescura. A obra de Steve Reich, provavelmente a mais conhecida e reconhecida do seu cânone, funciona perfeitamente quer como introdução ao minimalismo, quer para um estudo mais aprofundado dos seus mecanismos.
O contributo do nova-iorquino para a música minimal é incomensurável. Reich é um dos compositores mais vanguardistas dos últimos 50 anos e as suas teorias e práticas projectaram uma miríade de influências, das ambiências de Brian Eno ao pós-rock dos Tortoise.
Music for 18 Musicians marca a diferença no minimalismo por usar um número substancialmente maior de executantes na sua interpretação. Os vários instrumentos envolvidos, incluindo vozes femininas, apresentam-se como pequenas partículas de um todo, gotas que fluem para formar um rio sonoro. A obra divide-se em duas partes, Pulse - Sections I - IV e Sections V - X - Pulse. A estrutura é circular e assemelha-se a um fractal. As onze pequenas peças são constituídas por onze acordes, que se imiscuem, sucedem e expandem até voltarem ao ponto de partida. O pulsar sente-se constantemente. Apesar de minimal, a música é rica em detalhes, harmoniosa e melodiosa. O facto da obra ser executada por, pelo menos, 18 músicos, ajuda à percepção dessa riqueza, em que os sons, circulares e repetidos, provocam diferentes reacções sensoriais. A psicoacústica era um dos interesses de Reich por esta altura e Music for 18 Musicians é um case study perfeito para induzir reacções ao som.
Pondo de parte a frieza e os componentes técnicos e organizacionais da obra, Music for 18 Musicians é uma criação de grande beleza e extremamente cativante e recompensadora para quem se deixar flutuar no leito das suas águas. Uma composição que tanto nos consegue abrir a mente a turbilhões imaginativos, como relaxar-nos na sua cadência repetitiva. Everybody grows up with a sound, disse certa vez Steve Reich. Mas este som cresce dentro de nós.
O contributo do nova-iorquino para a música minimal é incomensurável. Reich é um dos compositores mais vanguardistas dos últimos 50 anos e as suas teorias e práticas projectaram uma miríade de influências, das ambiências de Brian Eno ao pós-rock dos Tortoise.
Music for 18 Musicians marca a diferença no minimalismo por usar um número substancialmente maior de executantes na sua interpretação. Os vários instrumentos envolvidos, incluindo vozes femininas, apresentam-se como pequenas partículas de um todo, gotas que fluem para formar um rio sonoro. A obra divide-se em duas partes, Pulse - Sections I - IV e Sections V - X - Pulse. A estrutura é circular e assemelha-se a um fractal. As onze pequenas peças são constituídas por onze acordes, que se imiscuem, sucedem e expandem até voltarem ao ponto de partida. O pulsar sente-se constantemente. Apesar de minimal, a música é rica em detalhes, harmoniosa e melodiosa. O facto da obra ser executada por, pelo menos, 18 músicos, ajuda à percepção dessa riqueza, em que os sons, circulares e repetidos, provocam diferentes reacções sensoriais. A psicoacústica era um dos interesses de Reich por esta altura e Music for 18 Musicians é um case study perfeito para induzir reacções ao som.
Pondo de parte a frieza e os componentes técnicos e organizacionais da obra, Music for 18 Musicians é uma criação de grande beleza e extremamente cativante e recompensadora para quem se deixar flutuar no leito das suas águas. Uma composição que tanto nos consegue abrir a mente a turbilhões imaginativos, como relaxar-nos na sua cadência repetitiva. Everybody grows up with a sound, disse certa vez Steve Reich. Mas este som cresce dentro de nós.
Idade do Vinil
A norte-americana Amoeba Music define-se como a maior loja independente de discos do mundo. Como em tudo na vida, o tamanho é relativo, mas este histórico espaço parece não descansar à sombra da sua dimensão. Recentemente, os adeptos da música mais obscura, especialmente os devotos do vinil, têm um motivo de regozijo. A Amoeba Music tem-se dedicado a digitalizar e a colocar online o seu espólio mais raro, muito dele constituído por edições descontinuadas. Na secção Vinyl Vaults do seu website, a loja disponibiliza para download um largo número de discos em vários formatos e que percorrem os mais diversos géneros musicais. Tomando como exemplo o jazz, é possível encontrar relíquias de Louis Armstrong ou Coleman Hawkins a conviver sem sobrancerias com nomes desconhecidos da esmagadora maioria. Improváveis e kitsch, como Your Friendly Neighborhood Rhythm Section ou Cotton Top Mountain Sanctified Singers.
Passear por este espólio é ser teletransportado para um mundo de música vintage e desaparecida e já não é preciso ir à Califórnia para o conseguir. Para adeptos do coleccionismo, ou para quem ainda é capaz de pagar por estes artefactos, a Amoeba Music será um nome a acalentar.
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