Na ressaca de mais um disco desconcertante e incatalogável, Bish Bosch, continua a ser saudável assistir a uma nova vaga de interesse por Noel Scott Engel. Ou Scott Walker, americano por defeito, europeu por virtude, cujo nome adoptado pela banda que primeiro o acolheu nunca mais o deixou em paz e a ele se cola como um alter ego tão notório quanto grotesco. Uma persona que perdura ao longo de tantos anos de inflexões e radicalismos.
O conjunto de ensaios e entrevistas reunido em No Regrets - Writings on Scott Walker não é para neófitos. É para conhecedores e admiradores da estranha arte e dos bizarros métodos de um dos músicos verdadeiramente únicos dos últimos 50 anos. Mais que descritivo, o livro é uma discreta torrente de admiração pelo homem e a sua obra. Uma viagem pelos caminhos tortuosos da sua vida (sempre a artística, porque a pessoal é um perpétuo mistério, alimentado a rumores e mitos) e da música que desovou. Uma música que consegue erguer-se aos píncaros do belo para depois cair a pique no mais aterrador dos pesadelos.
Do advento dos Walker Brothers à abismal feitura de The Drift, No Regrets conta com o contributo de grandes nomes da escrita musical realmente importante da actualidade, como Rob Young (o editor), David Stubbs, Ian Penman ou David Toop (que assina um texto brilhante). Com a chancela de qualidade da revista Wire, o livro é essencial para os seguidores de Scott - homem, mito e magia.