2 de outubro de 2013
Like a Rolling Stone
Já lhe chamaram o Santo Graal das biografias de estrelas do rock e com toda a legitimidade. Mais que um livro, Life é uma revelação. A biografia para esmagar todas as biografias. Pela frontalidade, crueza e sinceridade. Como se Keith Richards fosse trancado connosco numa sala vazia, apenas com um volume de Marlboro e uma garrafa de Jack Daniel's e desfiasse intimamente o seu rosário de memórias.
É um solilóquio que não deixa nada por dizer, nenhum mito por esboroar, nenhum rumor por confirmar. O lendário guitarrista dos Rolling Stones aplaca-nos a curiosidade acerca da sua vida preenchida de música e excessos. A vida que o levou da infância pobre na cidadezinha de Dartford no pós-2ª Guerra Mundial à aclamação universal como guitarrista da maior banda de rock'n'roll do mundo.
O resto é o que se espera de Keef: A avalanche de drogas, a fuga que propiciam, o combustível narcótico que delas advém e a desconstrução do seu romantismo; o sexo com mulheres que nunca pensou vir a ter; julgamentos de vária ordem; tiros, facas e carros a acelerar pela noite americana; a verdade sobre Brian Jones; a reputação de Mick Jagger estraçalhada. E, mais que tudo, um enorme fuck you à autoridade e às normas estabelecidas lançado por um homem que viu e viveu mais do que qualquer um de nós alguma vez sonhou. Um homem que, apesar da carapaça durona e o epíteto de excessivo e decadente demonstra, não raras vezes ao longo do livro, uma sensibilidade enorme e cavalheiresca.
Nenhuma descrição faz plena justiça ao que se encontra por entre as páginas de Life. Os pormenores sumarentos e as revelações surpreendentes só fazem sentido relatados pelas palavras de Keith e pela pena do seu co-autor, o jornalista James Fox. Dizer que esta obra é imprescindível para qualquer verdadeiro amante do rock torna-se, assim, redundante.