Deixando de lado a forma e insistindo no conteúdo, The Well-Tuned Piano contém alguma da música mais estranhamente bela e cativante criada por La Monte Young. O próprio compositor norte-americano, tido por muitos como o patriarca do Minimalismo, considera-a a sua obra-prima. Mas considera-a igualmente inacabada, sendo que tem vindo a sofrer acrescentos e remendos desde 1964 até aos nossos dias.
Uma performance de The Well-Tuned Piano pode durar entre cinco e seis horas. Sendo uma peça essencialmente improvisada, não possui uma estrutura rígida, exigindo apenas ao executante uma sucessão de secções e sub-secções pré-definidas. O resultado é um mergulho num mundo de sons maioritariamente hipnóticos, que varia entre ruminações lentas e idílicas e espirais intensas e repetitivas.
Tal como o título da peça intui, a afinação do piano é a base da sua interpretação. Mantida secreta durante quase três décadas, foi apenas revelada em 1991, permitindo que a composição passasse a ser executada por outros que não o seu autor. É esta forma alternativa de afinar um piano que provoca a catadupa de sons estranhos mas igualmente familiares que envolvem o ouvinte. As cordas ecoam espectralmente e transmutam-se em reverberação. Vislumbra-se uma osmose entre o formalismo da música clássica ocidental e as texturas simples e monofónicas da música oriental, especialmente da Índia.
Haja tempo e disponibilidade para a absorver e The Well-Tuned Piano tornar-se-à uma experiência recompensadora. Uma peça-chave não só do Minimalismo e dos drones caracteristicamente explorados por La Monte Young, mas de toda a música vanguardista do século XX. Nunca um piano foi tratado assim.