9 de novembro de 2013

The Life of P

A vida dos P foi curta. Durou entre 1993 e 1995 e gerou apenas um fruto. A parca atenção dada a este projecto paralelo de Gibby Haynes - líder dos Butthole Surfers - prendeu-se, sobretudo, com o músico de serviço Johnny Depp. O actor fetiche de Tim Burton e objecto de fantasias para jovens (e não-assim-tão-jovens) damas melancólicas, toca guitarra e baixo ao longo de todo o álbum homónimo da banda e fá-lo com a galhardia de um rocker deliciado com a desbunda.
P é um disco tremendamente eclético e quase esquizofrénico. Abre deliciosamente com o rock magnético de I Save Cigarette Butts e a partir daí uma caixinha de surpresas exibe-se perante nós. Existe espaço e liberdade para tudo, desde paródias ao R.E.M. em Michael Stipe a uma versão indie rock de Dancing Queen dos ABBA. E não sabemos como reagir a estas provocações porque a música está sempre à altura dos devaneios.
A sombra dos Butthole Surfers mais viscerais e inconvencionais, filhos bastardos do punk e do psicadelismo, projecta-se em Zing Splash e Oklahoma. E os P ganham identidade própria em experimentos como Jon Glenn (Mega Mix) e Scrapings From Ring, duas peças apostadas em trazer à ribalta uma espécie de dub rock que oscila entre o ambiental e o demencial.
Há ainda espaço para os blues psicóticos que David Lynch não desdenharia em White Man Sings The Blues, para uma desconjuntada canção de amor - Die Anne - e para The Deal, um estranho épico sucedâneo do grunge que nos faz coçar o queixo à procura de sentido. Porque tudo e nada fazem sentido neste disco. É música em bruto, na qual as únicas cedências concedidas são à arte da miscelânea.
Para além da super estrela Johnny Depp, merece igualmente destaque a colaboração de luminárias como Chuck E. Weiss, Flea (dos Red Hot Chili Peppers) e Steve Jones (dos Sex Pistols) nesta obra. Um disco singular e desafiante, que não foi um blockbuster e passou fugazmente pelos anos 90, mas cuja personalidade original foi feita para durar.