Thank God for Mental Illness é o terceiro registo editado pelos Brian Jonestown Massacre no ano de 1996. É igualmente a mais consistente de todas as obras da banda até essa data, aquela em que uma certa errância artística, charmosa mas auto-indulgente, dá lugar a maior enfoque e nervo.
A obsessão pelo som psicadélico dos anos 60 continua a fazer-se sentir, bem como inflexões pronunciadas pelos sons de garagem, mas com eles coexiste uma certa sensibilidade indie rock que aproxima mais a banda da modernidade. Um cocktail forte e colorido, que translada na perfeição o espírito dos sixties para os nineties e sem o polimento excessivo aplicado por uma certa facção da britpop.
Começando pelo fim, Thank God for Mental Illness termina audaciosamente com uma peça que ultrapassa os trinta minutos de duração. Chama-se Sound of Confusion e une cinco temas intercalados por sons urbanos, pregações de rua e outros ruídos voadores não-identificados. É o momento em que a banda de São Francisco soa mais progressista e desafiante, mas sem invenções desnecessárias. Para trás ficou um oceano de vibrações oscilantes e influências irrepreensíveis.
Spanish Bee dá início ao álbum em regime de flamenco lisérgico, temperado a Farfisa ensimesmado e enaltecido por tambores intrusivos; Ballad of Jim Jones emana uma aura dylanesca evidente; It Girl, 13 e Talk - Action = Shit comprovam a influência dos Rolling Stones na música dos californianos. Especialmente os Stones de Aftermath e Between the Buttons, momentos de inspiração maior na sua épica carreira. Country e blues contaminam These Memories e Free and Easy, Take 2. Há ainda espaço para baladas, de despojamento outonal em Stars, de psicadelismo sombreado em Down.
Thank God for Mental Illness é uma obra condenada a ser eternamente excitante e revigorante. Rezam as crónicas que custou menos de 20 dólares a produzir e que foi todo gravado no mesmo dia. Verdade ou não, certo é que discos como este são raridades cada vez maiores na indústria musical que mede tudo a régua e esquadro. Pode tresandar a revivalismo, mas é um manifesto de liberdade com certificado de autenticidade.