8 de fevereiro de 2020

Kosmische Kosmetik LIV

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Adelbert von Deyen foi muitas vezes acusado de ser um clone do seu conterrâneo e contemporâneo Klaus Schulze. Pese embora a carreira do primeiro tenha arrancado quase uma década após o despontar do segundo, as semelhanças musicais e estéticas são notórias.
Sternzeit e Nordborg, álbuns editados, respectivamente, em 1978 e 1979, são obras que nos remetem de imediato para o imaginário de Schulze, quer pelo estilo composicional, quer, inclusivé, pelo pastiche flagrante das suas clássicas e reconhecíveis capas.
Porém, apesar da homenagem confessa e do resgate da traça original do mago electrónico berlinense, é possível encontrar pontos de ruptura e diferentes azimutes na música de Adelbert von Deyen.
Enquanto Sternzeit mergulhava na escuridão cósmica e Nordborg revelava um hermético isolamento, o terceiro disco - Atmosphere, de 1980 - abre espaço à luz e deixa-se contaminar por aragens menos rarefeitas e mais expansivas, onde o ritmo assume um papel secundário, mas assertivo.
Time Machine franqueia as portas em cadência motorik e abre alas a uma melodia serpenteante, durante 5 minutos que ombreiam com o melhor dos Neu! e dos Kraftwerk.
A belíssima Silverrain expande a paleta e deixa-se contaminar por bacilos progressivos. Contemplativa e sedutora, a teia sonora expande-se languidamente, evocando reminiscências do psicadelismo dos Pink Floyd e do neoclassicismo progressivo dos Eloy.
Por último, o tema-título e pièce de résistance do disco. Atmosphere é uma peça colossal, que ultrapassa os 30 minutos de duração e se subdivide em 8 fragmentos, oscilando entre a expansão cósmica, a solenidade gótica e a hipnose caleidoscópica. Imensa e ambiciosa, sem nunca resvalar para a banalidade e a redundância, esta composição pode muito bem representar o fim de uma era. Os anos 80 despontavam e a música electrónica começava a descer à Terra, preocupando-se mais com a dança dos corpos humanos, em detrimento da dança dos corpos celestes.
Adelbert von Deyen continuou a produzir discos até ao século XXI - faleceu em 2018 -, progressivamente contaminados pelas tendências do presente e sem a audácia sonhadora do passado. Atmosphere ficará registada, muito provavelmente, como a sua obra de referência.