6 de fevereiro de 2021

Kosmische Kosmetik LVII

 

O outro projecto musical do multi-instrumentalista alemão Nico Seel intitula-se The Space Spectrum. Aqui, o seu alter ego escapa às influências rítmicas maquinais e à austeridade melódica, enveredando por uma vertente assumidamente cósmica e psicadélica.
The Space Spectrum é forjado na encruzilhada onde o Krautrock e o Space Rock se encontram. Desta feita, as referências imediatas centram-se nos Hawkwind e nos Pink Floyd dos primórdios, mas o improviso trippy de conterrâneos como Amon Düül II encontra-se igualmente latente ao longo dos dez álbuns já editados com o selo do projecto.
O primeiro deles, denominado Cosmic Sounds, remonta a 2011. Tal como na one man band Krautwerk, Nico Seel assegura todos os instrumentos audíveis no disco. A solidão artística imperou até 2013, altura em que, ao sexto álbum, os Space Spectrum se transformaram num quarteto, deixando para trás a aura artesanal, porém charmosa, que caracterizava a sua obra até então.
Cosmic Sounds é um disco pesado e denso, que cobre o ouvinte com um frio manto espacial e o embala ao longo das eternas trevas cósmicas. É composto por quatro longas peças instrumentais, aparentemente indistintas entre si, mas que se desdobram em subtis nuances. The Dead Cosmonaut avança, em constante propulsão, como nave desgovernada a orbitar o vazio. O ritmo é árido. As guitarras, fustigantes.
Lunatic Moon recupera os Hawkwind da fase mais abrasiva - por alturas de Doremi Fasol Latido - e engole-nos numa espiral de guitarras minimais, ritmos hipnóticos e apontamentos electrónicos que vibram como flashes luminosos num escuro caminho.
The Giant Orbit é a peça central de Cosmic Sounds. Tema colossal, é dominado por um riff de guitarra circular e penetrante, ritmos que variam entre o arrastado e o marcial, e a subtil mas omnipresente ornamentação electrónica, que povoa o disco e acentua o psicadelismo gélido da sonoridade.
A fechar, Sleeping Moon acentua a atmosfera desoladora contemplada ao longo de todo o disco. Move-se lentamente, em ritmo funéreo, e as notas da guitarra caem como elegíacas gotas de cristal.
Cosmic Sounds é, acima de tudo, o trabalho de um devoto. De um purista que almeja homenagear as suas raízes musicais e, dessa forma, sentir-se mais próximo e comungar do seu universo. Nico Seel conseguiu tal feito aqui, exemplarmente. Pode sentir-se orgulhoso.