Melhor que um excelente livro, só mesmo um excelente filme. E vice-versa. Easy Tigers, Raging Bulls, subtitulado How the Sex'n'Drugs'n'Rock'n'Roll Generation Saved Hollywood é uma viagem imersiva e fascinante aos meandros do cinema americano dos anos 60 e 70. Editada originalmente em 1998, esta obra do crítico e historiador do cinema Peter Biskind relata a revolução levada a cabo na Meca da sétima arte no seguimento do pós-Segunda Guerra Mundial e no advento da guerra do Vietname.
Pleno de histórias de bastidores, episódios anedóticos e retratos reais de actores, produtores e realizadores, o livro continua a ser objecto de estudo e culto para todos os cinéfilos e/ou interessados na mudança radical iniciada em Hollywood há 60 anos e perpetrada por beatnicks, hippies, estudiosos entusiastas da Nouvelle Vague francesa e agitadores da contra-cultura norte-americana.
Outro dos méritos de Easy Tigers, Raging Bulls é colocar o leitor como espectador/voyeur no backstage de obras agora seminais e clássicas como Easy Rider, The Exorcist, Taxi Driver ou Apocalypse Now. Os egos, excessos e fragilidade humana das estrelas imaculadamente imortalizadas no grande ecrã desfilam em parada e, até à data, são alvo de controvérsia e acusações de falta de veracidade.
Easy Tigers, Raging Bulls foi objecto de um filme documental em 2003, realizado por Kenneth Bowser e narrado pelo actor William H. Macy. A película constitui um complemento essencial e bem estruturado à obra escrita, contendo depoimentos interessantes e sumarentos de alguns dos principais intervenientes.
Em suma, ambos os documentos proporcionam um trajecto revelador e exaustivo através de uma das épocas mais inovadoras e marcantes do cinema, não só norte-americano, mas mundial. Muito da cultura popular actual e do nosso imaginário colectivo foi construído com base nos filmes desta era dourada/tresloucada. Afinal, quem nunca olhou para o espelho e lançou um "Are you talking to me?"