A Strange Arrangement impregnou novamente a minha ímpia alma de soul. Já não me lembro há quanto tempo isto não acontecia, provavelmente desde que Jamie Lidell cantou mais alto. O álbum deste ano de Raphael Saadiq é também um ardor constante. Mas aqui canta-se melhor e as convenções são brilhantemente revolvidas. Não me canso desta voz. Não me canso destas canções quentes e lânguidas. Discos como este são um raio de sol permanente, uma prova que a (boa) música não tem cor ou idade. Podia ser um álbum de um monstro sagrado como Marvin Gaye, Otis Redding ou Al Green, algo gravado na Motown dos anos 60 ou 70. Na realidade, foi feito por um indivíduo branco do Michigan com um ar meio nerd chamado Mayer Hawthorne, que calha ter um vozeirão superlativo. É uma obra intemporal, transbordando excelentes canções, casualmente editada em 2009 e, desde já, uma das marcas discográficas do ano. Magnífica e contagiante, que é somente o que interessa. Não há muito mais a dizer, senão deixar a música penetrar cada poro, fechar os olhos e deixar a alma à mercê desta deliciosa cascata sonora. Definitivamente para ouvir numa companhia muito desejada. Acredito que derreta icebergs e faça milagres...