Os Flaming Stars têm vindo a fazer, essencialmente, o mesmo álbum há 13 anos. Isto não implica que a sua música seja classificada como aborrecida ou repetitiva. O facto é que este quinteto londrino, liderado por Max Decharné, ex-membro dos nocturnos mas fogosos Gallon Drunk, tem apostado numa sonoridade que pouco ou nada se afasta da traça original. Essa traça bebe sofregamente das bandas de garagem dos anos 60 e de um imaginário noctívago, rockabilly e decadente, alimentado a álcool, tabaco e western spaghetti. Inúmeras vezes comparados aos Gun Club e aos Bad Seeds de Nick Cave, comungam dos primeiros a vertigem urbana e árida e dos segundos a visceralidade e qualidade interpretativa. Mas são acima de tudo bandas norte-americanas primordiais como os Sonics, os Artesians ou os Wailers e actos individuais icónicos como Elvis Presley ou Gene Vincent que moldam e assombram a sonoridade dos Flaming Stars.
Banda prolífera, desde o lançamento do primeiro álbum Songs From The Bar Room Floor em 1996 até Born Under a Bad Neon Sign, disco de 2006, os Flaming Stars editaram sete álbuns de originais e uma mão-cheia de singles, EP's e compilações. A consistência está presente em todos os lançamentos, sendo que Bring Me The Rest Of Alfredo Garcia será provavelmente a melhor carta de apresentação do grupo. O que fica, sobretudo, são as canções, urgentes e poderosas, penetrantes e inesquecíveis, amargas e ressacadas. Chamativas como um Cadillac dos anos 50 e espalhadas ao longo dos anos de existência da banda, são o sangue que lhe corre nas veias. Ten Feet Tall, A Hell Of A Woman, Downhill Without Brakes ou Sweet Smell Of Success são temas de fazer cair o queixo, nem que seja pelo majestoso Vox Continental que borboleteia infecciosamente ou pelos raids rítmicos do soberbo baterista Joe Whitney. The Day The Earth Caught Fire, The Last Picture Show, House Of Dreams ou Black Mask são sedutoramente escuras e palpam terreno nas sombras com dedos que parecem apreciar a travessia.
Como já foi dito, pouco ou nada mudou no estilo dos Flaming Stars desde a sua fundação. A música continua a encarnar no presente espectros do passado e as capas dos discos continuam a ser pastiches de cartazes cinematográficos dos anos 50. A atitude, essa, só pode ser apelidada de punk (por vezes dou comigo a pensar nos Stranglers dos primórdios quando os ouço...). Eternos membros da segunda divisão das bandas britânicas, parece não quererem mais que isso e também não precisam. Vestem os seus fatos e gravatas como se fossem membros da Rat Pack no coração do Soho; manda a tradição que iniciem cada álbum com um tema fervilhante e o encerrem com uma balada lacrimejante; arrancam tornados sónicos e são fiéis àquilo que fazem como se fossem a última das bandas de garage rock à face da Terra. Depois de vários anos de bulício constante, há três que se remetem ao silêncio discográfico. Pode ser que tenham terminado. Pode ser que lhes esteja a faltar combustível para arder. Seja como for, se voltarem, que seja na forma de sempre, pois não há mais ninguém como eles.