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O que fica de Rifts é o monstro que ele é. Em sentido figurado, obviamente. Mais de 2 horas de electrónica planante, sem grandes variações para além das espirais subliminares que se sucedem a cada tema. A música tanto pode invocar auroras estilhaçantes de luz como o mais abismal dos negrumes. As melodias são mais sugestões que materializações e invade-nos uma ausência de gravidade constante ao longo do disco. É interessante saber que parte destas peças foram produzidas em cooperação com o Material Eye Institute, da Academia Russa de Ciências Computorizadas. Talvez advenha daí a sensação intermitente de que estamos a ser transportados pela Soiuz para o lado oculto da Lua.
Se há temas a realçar na densidade cerebral de Rifts, Betrayed in the Octagon é garantidamente um deles. Sonata electrónica, feita de uma melodia circular, tímida e contida, é a peça onde a influência germânica vintage mais se revela e seduz. Behind the Bank é igualmente um belo e atmosférico exercício, suavemente hipnótico e apaziguador. Learning to Control Myself serpenteia misteriosamente numa ambiência que mimetiza o mestre Robert Fripp para terminar em queda num buraco negro. O cibernético Russian Mind é atravessado por sintetizadores tão frios como a guerra que nunca existiu e debita a solidão da tecnologia há muito obsoleta. A frieza e a solidão de ficção científica transparecem igualmente em Zones Without People, potencial banda-sonora perfeita para as criogenias de Ubik de Philip K. Dick.
Num total de 27 temas, a fonte de júbilo é inesgotável para os amantes da electrónica mais difícil de penetrar mas, ao mesmo tempo, mais recompensadora. Electrónica cósmica, sem dúvida, daquela que ainda possui rasgos e musas da magia de outrora. Um disco que dá que pensar, literalmente.