A sonoridade de Isle of View é introspectiva, serena e crepuscular. Impregnado de ambiências outonais e de flutuantes melodias, é parente próximo dos primeiros álbuns de Tim Buckley ou dos momentos mais carregados de David Ackles. Traz com ele o rasto dos finais de Verão, de entardeceres sob céus avermelhados e mares dourados pelo pôr-do-sol. Em suma, um punhado da magia que os músicos da West Coast tão bem sabiam dominar nesta época (estávamos em 1971).
As canções sucedem-se em catadupa, numa doce irrealidade. Parecem chegadas de um mundo imaginário, conquistando e entranhando-se. As cinco primeiras são intocáveis, especialmente For Roach, Monte Luna e a excepcional I am the Mercury. Os movimentos alargam-se em momentos seleccionados, como Long Way Down ou nas reminiscências de Gram Parsons avivadas por Seven Virgins. Mas são apenas aguaceiros que estancam perante a tirania apaziguadora de Come Back e o transcendente tema final, Esmaria.
O resgate para a luz de Jimmie Spheeris tem sido levado a cabo por gente tão consagrada como Midlake ou Bon Iver. Outra influência difusa pressente-se no genial Queen of Denmark, devastador primeiro disco de John Grant, editado há poucos meses. É certo afirmar que quem ouviu Isle of View não tem como escapar à expressão homófona que o título esconde: I Love You. Esta e outras revelações estão no único local da Web inteiramente dedicado ao homem e à sua arte.