Nick Kent nunca preferiu boas companhias, sempre percorreu as ruas mais sujas e escuras do jornalismo musical. Felizmente para nós. Quem acredita que, se nos juntarmos aos maus, nos tornaremos piores que eles, não deve ler este livro. Até porque os maus assemelham-se mais a vítimas na prosa de Kent, ele mesmo um jornalista que cometeu e viveu por dentro os excessos do estilo de vida alucinante do rock'n'roll. Eis um pequeno excerto da sua atribulada biografia, coincidente com o lançamento do seu mais recente livro, Apathy for the Devil...
The Dark Stuff é um acumulado de ensaios e entrevistas, tudo material de primeira mão do autor, reunido ao longo de mais de 30 anos de jornalismo militante. Originalmente publicado em 1994, é a versão expandida de 2007 que se pode considerar definitiva. Termina com uma peça intitulada Self-destruction in Rock and Elsewhere, o que resume essencialmente o que ficou para trás. Histórias de auto-destruição, morte, glória, alienação e megalomania que lançam uma perspectiva quase poética sobre vidas em parte perdidas ou perdidas para sempre. Por amor à arte, por amor à ribalta, por ódio a elas mesmas, por ódio à realidade. Todos os relatos são imensamente fortes e reveladores, fazendo com que a música dos visados desperte um culto ainda maior. Os artigos dedicados a Phil Spector, Syd Barrett e Serge Gainsbourg desassossegam e perturbam, especialmente o retrato decadente do músico francês. Lá estão suspeitos do costume nestas quedas no abismo, como Kurt Cobain ou Sid Vicious. Mas também se encontram casos de pontuais comportamentos desviantes que não levaram a encontros prematuros com o Todo-Poderoso (ou seja, John Malkovich), casos de Elvis Costello e Neil Young.
Uma excelente obra de um mítico jornalista britânico, The Dark Stuff é literatura obrigatória para percorrer o lado negro da personalidade de gente que admiramos, mas nunca podemos pensar que conhecemos.