"Their name is Love but they are Hate." Esta expressão foi usada para definir os Love, uma das bandas mais geniais de sempre, que fundiu elementos de garagem, psicadelismo e barroquismo pop como mais ninguém. Os Belle & Sebastian não existiriam sem eles, assim como o reverenciado primeiro disco dos Stone Roses e Michael Head teria sido mais um post-punker inconsequente em vez de criar os belíssimos Pale Fountains / Shack. O colectivo que nos levou a um passeio pela perfeição no intocável Forever Changes brotou de poderosas ervas daninhas e começou por florescer num álbum homónimo do tipo bikini: curto, atraente e que focou os pontos essenciais.
Love, editado em 1966, é um disco que cruza o imediatismo e a urgência do Garage Rock com a sensibilidade da melodia e a arquitectura da canção concisa e perfeita. O malogrado Arthur Lee, eterno símbolo desta entidade, projecta já a sua mente torturada em temas agridoces, de sol enganador e sombras ominosas. O ódio dos Love sente-se nas palavras que repercutem o Vietname, as drogas pesadas ou a inutilidade do emergente sonho hippie. A música crava as unhas em elementos que vão da folk ao que agora é politicamente correcto chamar proto-punk (e que mais não era que raiva latente).
My Little Red Book transforma a temática pinga-amor do original de Burt Bacharach em sátira política, graças à compatibilidade com o Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung e à carga eléctrica que lhe é inflingida. Signed D.C. é uma sombria incursão pela câmara escura da heroína, homenagem ao falecido ex-baterista Don Conka. O quarto é escuro e frio, mas há um prazer algo voyeurista em ficar à porta a contemplá-lo, pois a canção é memorável. E a memória mais propensa a néctares musicais nunca poderá descurar peças intrépidas como A Message to Pretty, Softly to Me ou You'll Be Following. Can't Explain e o ataque de nervos à clássica murder ballad Hey Joe apresentam-se menos polidas e mais garagistas na entrega.
Tudo é sangue na guelra neste disco, o prenúncio de mágicas, mas tortuosas, glórias futuras. Arthur Lee e o seu clã olham-nos de frente na capa de Love, rodeados de pedra e vegetação em seu redor. O local era a antiga casa de Bela Lugosi, onde o grupo viveu em comunhão os seus primeiros anos. Os olhares parecem dizer que, tal como a melhor encarnação de Drácula, esperam pacientemente para nos sugar o sangue. E nós, sofregamente, oferecemos o pescoço...