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E2-E4 continua a ser um disco imbuído do espírito da kosmische musik. É um indutor de transe como o melhor dos Tangerine Dream e está lá a guitarra livre de amarras que se estilhaça nos Ash Ra Tempel. A diferença é que, desta vez, o ritmo impõe-se e é levado ao topo, enfatizando ainda mais as oferendas hipnóticas. Composto por um tema que raia os 60 minutos de duração e que se desdobra em 10 segmentos, o álbum é para ser ouvido como um contínuo. Após uma crescente introdução, o ritmo cibernético mas quente instala-se em definitivo. O convite ao movimento é óbvio, a vontade de resistir-lhe diminuta. Quiet Nervousness e Moderate Start são gâmetas que se fundem para formar o embrião da futura house music.
Em Promise emerge a guitarra de Göttsching, num balançar escorregadio e penetrante, quase afro-latino. A mescla entre o ritmo mecanizado, a electrónica repetitiva e a guitarra equatorial prolongam-se até ao fim do disco. E é curioso como uma atmosfera que nunca deixa de ser abstracta e minimal consegue causar tanto prazer auditivo. E2-E4 é paragem obrigatória para os amantes de electrónica. É um registo de extrema inovação (corria o ano de 1984 quando foi editado) e, acima de tudo, um álbum de culto. Que o diga James Murphy - mastermind dos LCD Soundsystem, alvo da indignação do próprio Göttsching por gostar tanto do disco e querer cloná-lo quase por inteiro...
O título desta obra essencial inspira-se na jogada de abertura mais clássica do xadrez. Tendo em conta os xeque-mates que conseguiu ao longo dos anos, tudo indica que Manuel Göttsching sabia bem o que estava a congeminar...