A surpresa mais agradável talvez tenha sido o projecto KWJAZ, do solitário Peter Berends. Ocasional colaborador dos excelentes Rangers, este norte-americano pratica uma sonoridade algures entre os lavores mais pacatos de Conrad Schnitzler e as coloridas hipnagogias de James Ferraro. Em suma, electrónica cerebral com laivos de emoção e ritmos ocasionais.
Vale a pena perscrutar o único registo até à data desta enigmática entidade. Dividido em duas peças, Once in Babylon e Frighteous Wane, está directamente prescrito a quem pretenda acrescentar estados hipnóticos e semi-letárgicos à sua dieta mental. A primeira tranche é servida em salva hipnagógica, como se memórias de uma noite festiva dos anos 80 tivesse sobrevivido em animação suspensa para o que dela resta ser reanimada cem anos depois. Fora de tempo, fora de sítio, a tentar fazer sentido nas nossas cabeças. A segunda imerge até ao pescoço em lodaçais de electrónica incógnita, com breves tragos do dub cósmico que o mestre Dieter Moebius tanto gosta de oferecer (coincidência ou não, foi ele o cabeça de cartaz na noite de KWJAZ...) e mais samplagem rebuscada de um passado qualquer.
Damo Suzuki, o mais lendário vocalista dos mais que lendários Can, também esteve no Barreiro. Tive o imenso prazer de conversar largos minutos com ele e de perpetuar o encontro. Mais tarde, pouco percebi das palavras que o pequeno gigante entonou em palco. Mas, perante a intensidade dos mantras eléctricos debitados, isso não interessa para nada. Obviamente, foi um enorme e extasiante concerto...