22 de junho de 2012

Big MEC



Escrítica Pop foi compilado a partir de crónicas elaboradas entre 1980 e 1982 para a imprensa (Se7e e O Jornal) e para a rádio (o saudoso Café-Concerto da Comercial). É um livro de Miguel Esteves Cardoso e uma das obras de referência, não só do jornalismo musical português, mas da própria escrita lusa dedicada à arte das musas.
Escritos entre Portugal e Inglaterra, estes textos debruçam-se, obviamente, sobre a música e a cultura pop de cá e de lá. É evidente o apreço do autor por grandes nomes que, na altura, davam os primeiros passos no milieu, como UB40 (sim, eles já foram bons), James "Blood" Ulmer ou Depeche Mode. Igualmente notória é a aversão ao metal ou aos neo-românticos (carinhosamente definidos por MEC como rock-cabeleireiro). Intocáveis são apenas os Joy Division, o que se compreende pela escolha da capa para o livro. E tão bem são eles tratados pela pena do escriba. E que nos resta senão concordar com tudo e ir ouvir os discos outra vez...
As tendências e trejeitos de escrita a que MEC nos habituou encontram já terra firme em Escrítica Pop. A ironia, irreverência e inteligência da prosa estão bem patentes ao longo do livro. É certo que muitas das coisas que o autor gaba se estragaram com o tempo, da mesma forma que alguns dos desancados se tornaram entidades criticamente respeitáveis. Mas MEC assume isso com a naturalidade e franqueza que todos deveríamos ter quando bebemos do caldo imenso e efémero da música popular: "É claro que  já não gosto de nenhuma das bandas das quais disse gostar muito, e que vim a apreciar todas as outras que jurei odiar até à morte", diz-nos o futuro criador d' O Amor é Fodido no prefácio da obra. Ao desbravar novamente as páginas do histórico Escrítica Pop, quem não sentirá o mesmo? E a capacidade de fazer soltar gargalhadas inteligentes aos melómanos de rigueur ainda lá está guardada...