15 de agosto de 2012

Kosmische Kosmetik XLII

Harald Grosskopf notabilizou-se pelos seus desempenhos como baterista em inúmeros projectos do rock alemão dos anos 70. Emprestou a sua energia rítmica, entre outros, aos infames Cosmic Jokers, aos Wallenstein e a Klaus Schulze.
Nome mais que mítico e consagrado no universo krautrock, Grosskopf acabou por estrear-se a solo com um disco fundado nos pilares da electrónica. Foi em 1980 que Synthesist viu a luz, luz essa que irradiou de imediato o universo da música sintetizada. Merecedor precoce do estatuto de clássico, Synthesist é incontornável e inesquecível. Um arraial de teclados e percurssão dominados exclusivamente pelo músico germânico, que debita uma sucessão de temas aquáticos e espaciais, dotados de uma fluidez cativante e de uma subtil vivacidade.
Synthesist principia em alta, com a volúpia rítmica e os teclados cósmicos de So Weit, So Gut. É notável a centelha de frescura que o tema carrega, o convite a uma viagem futurista e sedutora. 32 anos depois, o apelo é imutável. Os momentos mais ritmados do disco possuem a estranha dicotomia de motivar a dança, cibernética e maneirista, ao mesmo tempo que a refreiam com a sua frieza maquinal. Emphasis, 1847 - Earth e a deliciosa Transcendental Overdrive são ideais para dançarinos de sofá. O ritmo faz-nos ondular, serpentear, a melodia mantém-nos estáticos, em sonho desperto. O brilhante tema-título, sinfonia de electrónica progressiva em hipnótica deflagração, é igualmente o melhor momento do álbum.
O interesse subsiste quando as sombras se abatem sobre Synthesist. A animação suspensa de B. Aldrian, a excursão gélida de Trauma e o belo pulsar indefinido de Tai Ki complementam solidamente o lado luminoso do registo.
Synthesist foi reeditado em 2010, surgindo em 2011 Re-Synthesist, uma nova leitura dos seus temas executada por alguns dos nomes maiores da electrónica cósmica actual, como Oneohtrix Point Never ou Arp. Harald Grosskopf conseguiu, na sua estreia, um belo e coeso tratado electrónico, acima de tudo original, pois, apesar do peso óbvio de nomes como Tangerine Dream ou Kraftwerk neste tipo de música, nada se ouve que seja cópia ou colagem. Apenas mérito e audácia.