Andy Warhol faleceu em 1987. Nas suas exéquias fúnebres, Lou Reed e John Cale, amargamente afastados desde o afastamento do último dos Velvet Underground há quase 20 anos, voltaram a comunicar. A inquebrável química artística entre ambos levou a uma imponderável colaboração e ao início do que seria a primeira - e última - reunião da banda que fundaram. As eternas diferenças pessoais entre ambos levaram a que nunca mais trabalhassem em conjunto depois disso.
Andy Warhol foi alcunhado Drella por Ondine, membro do séquito da sua Factory. Tal epíteto, que Warhol sempre desdenhou, era uma fusão entre Drácula e Cinderela. Reed e Cale recuperaram-no para o disco de homenagem Songs for Drella, editado em 1990.
A escolha do título não surpreende. A relação com Warhol sempre oscilou entre a cumplicidade e a acrimónia. Todavia, em última instância, o que emana desta colaboração é um conjunto de canções entre o elegíaco e o afectuoso, em que a distância e a frieza se esbatem na admiração e gratidão ao rei indestronável da pop art.
Todos os temas de Songs for Drella são executados em dueto. Não existe secção rítmica, apenas a electricidade acutilante da guitarra de Reed, as chispas das cordas de Cale e teclados e vocalizações repartidas por ambos. A toada emotiva é constante, sendo que as letras narram episódios marcantes da vida de Warhol de forma reflexiva e despojada da pirotecnia extravagante que sempre o acompanhou.
Style It Takes, Faces and Names e Forever Changed, todas cantadas por Cale, evocam a arte de Warhol e a peculiaridade da sua visão do mundo e das pessoas. Open House, Slip Away (A Warning) e It Wasn't Me, pela voz de Reed, mostram o homem por baixo da camada de superficialidade e artificialidade que tanto lhe associavam, a tentativa de assassinato da qual foi alvo e as mudanças que o tempo acarreta. O tema mais pungente do disco será, certamente, o que o encerra. Hello, It's Me é uma despedida terna, uma catarse refreada nas palavras de Lou Reed e na melodia sombria do violino de John Cale. E Songs for Drella será um disco de homenagem despojado e intimista a um ícone da extravagância e da controvérsia.
Previamente à edição do álbum, as canções que o compõem foram alvo de gravação ao vivo na Brooklyn Academy of Music. A gravação, registada sem audiência, documenta exemplarmente o entrosamento musical entre dois gigantes tão próximos artisticamente, mas nos antípodas do entendimento pessoal.