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Andy Warhol foi alcunhado Drella por Ondine, membro do séquito da sua Factory. Tal epíteto, que Warhol sempre desdenhou, era uma fusão entre Drácula e Cinderela. Reed e Cale recuperaram-no para o disco de homenagem Songs for Drella, editado em 1990.
A escolha do título não surpreende. A relação com Warhol sempre oscilou entre a cumplicidade e a acrimónia. Todavia, em última instância, o que emana desta colaboração é um conjunto de canções entre o elegíaco e o afectuoso, em que a distância e a frieza se esbatem na admiração e gratidão ao rei indestronável da pop art.
Todos os temas de Songs for Drella são executados em dueto. Não existe secção rítmica, apenas a electricidade acutilante da guitarra de Reed, as chispas das cordas de Cale e teclados e vocalizações repartidas por ambos. A toada emotiva é constante, sendo que as letras narram episódios marcantes da vida de Warhol de forma reflexiva e despojada da pirotecnia extravagante que sempre o acompanhou.
Style It Takes, Faces and Names e Forever Changed, todas cantadas por Cale, evocam a arte de Warhol e a peculiaridade da sua visão do mundo e das pessoas. Open House, Slip Away (A Warning) e It Wasn't Me, pela voz de Reed, mostram o homem por baixo da camada de superficialidade e artificialidade que tanto lhe associavam, a tentativa de assassinato da qual foi alvo e as mudanças que o tempo acarreta. O tema mais pungente do disco será, certamente, o que o encerra. Hello, It's Me é uma despedida terna, uma catarse refreada nas palavras de Lou Reed e na melodia sombria do violino de John Cale. E Songs for Drella será um disco de homenagem despojado e intimista a um ícone da extravagância e da controvérsia.
Previamente à edição do álbum, as canções que o compõem foram alvo de gravação ao vivo na Brooklyn Academy of Music. A gravação, registada sem audiência, documenta exemplarmente o entrosamento musical entre dois gigantes tão próximos artisticamente, mas nos antípodas do entendimento pessoal.