Uma agulha num palheiro. Ou uma pérola numa ostra. Eis dois aforismos que definem o encontro com Integrati...Disintegrati na actualidade. O único álbum (conhecido) do italiano Franco Leprino é uma jóia rara de encontrar e, definitivamente, a preservar.
Produto nascido em 1977, fase já decrépita da electrónica de simpatias progressivas, esta magnífica obra desafia não só a fecunda prole oriunda de terras transalpinas nessa década, como se impõe com recatada majestade.
Terão sido, provavelmente, a época do seu lançamento - contra-corrente com as tendências panfletadas -, ou a cordata assertividade dos sons que guarda, as barreiras maiores para o reconhecimento universal deste disco. Porém, Integrati...Disintegrati sobreviveu incólume à passagem de três décadas e conserva uma aura genuinamente refrescante e fascinante, fruto, especialmente, da peculiar mistura de instrumentos que lhe dão alma.
Franco Leprino é, acima de tudo, um músico clássico. A guitarra acústica serve de leito às suas composições. E é ela que, singularmente, toma o papel de charneira neste disco e nas duas partes que o constituem. A primeira é um exercício que brota de uma suspensão quase cósmica, uterina, e se torna telúrica com a invasão suave e acalentadora dos dedilhados e a minimal mas sublime melodia das teclas sintetizadas. Mais tarde surgirá um piano e um choro pueril, que darão lugar a nova elevação sideral, desta feita dominada pela electrónica state of the art da época, nomeadamente os quase omnipresentes Moog e VCS 3. E ainda há espaço para uma coda, feita de teclas, oboé e cordas, num conjunto de tal forma envolvente cuja resposta não pode ser outra que a rendição à sua pulsante perfeição.
Mais abstracto, o segundo tema do álbum envereda por territórios mais experimentais, denotando que Leprino é um estudioso atento da música contemporânea, podendo elevar a fasquia do belo ao atonal e do melódico ao dissonante. Se a primeira parte da obra pode ser entendida como a integração, pela forma como os sons se conjugam para formar um todo coerente e sedutor, aqui chega a desintegração, uma contaminação pelo caos, um sonho que cede lugar ao realismo. Fragmentada e complexa, esta segunda parte apresenta-se mais escura e cerebral, mas com a porta para a sedução melódica sempre entreaberta. Ouça-se o interlúdio de guitarra acústica e flauta que soam a raio de sol que desponta por entre nuvens negras, para dar lugar a um mosaico electroacústico que culmina com o planante final do disco.
Integrati...Disintegrati acaba por ser uma ponte solidamente construída entre o clássico e o moderno, engenhosamente desenhada e nectárea como o favo de mel que ostenta na capa. Uma verdadeira obra de arte em termos de composição e estética e que merece bem mais que o culto obscuro que lhe tem sido devotado.