Provavelmente, Kim Fowley já fez tudo o que havia para fazer. Ou talvez não. O homem que cria e produz música desde finais dos anos 50, passou por todas as ondas, géneros e modas desde então. Produtor, compositor, artista, editor, relações públicas, designer de imagem, ou apenas figura de corpo presente, Fowley participou num sem-número de êxitos discográficos, mantendo-se, mesmo assim, praticamente desconhecido fora do circuito de culto do meio musical. Entre outros feitos lendários, consta que terá sido ele a mostrar pela primeira vez a John Lennon e a Paul McCartney Pet Sounds dos Beach Boys (e toda a gente sabe o que aconteceu a seguir...), foi ele que produziu uma das primeiras canções dos Soft Machine, que descobriu o mítico guitarrista Ritchie Blackmore, que apresentou ao mundo as Runaways e que até foi convidado pelo egocêntrico Frank Zappa para integrar os seus Mothers Of Invention. Como nota de rodapé, afirmou que Boyd Rice era o novo Jesus Cristo, o que é intrigante até para os seus parâmetros... De qualquer forma, este pesadíssimo Curriculum Vitae nunca o afastou de onde mais se sente à vontade: a rua, de onde brotam as raízes das mudanças e fenómenos musicais que realmente interessam. Kim Fowley tem a bonita idade de 69 anos. Continua a mover-se onde sempre se moveu. E a surpreender. A sua música não é fácil. O seu imaginário, hermético. No campo do incatalogável, talvez lhe pudéssemos chamar o David Lynch do rock'n'roll. E ele também faz filmes, como exemplifica o recente Pink Cement. Ora apreciem Mr. Fowley em todo o seu inusitado e surreal esplendor:
Há mais, como que a provar que o termo freak não foi inventado por acaso...
Kim Fowley tem um site: http://www.kimfowley.net/. Por estes dias, o mesmo abre com uma pequena película / pérola acerca de um final diferente nas últimas eleições norte-americanas e que é simplesmente hilariante. Só para mentes abertas e sem preconceitos, como tudo o que rodeia a arte deste homem, aliás...
Vintage pode ser algo raro, algo que não se produz mais. Pode ser algo que definiu uma época. Pode ser igualmente a capacidade que um vinho tem de envelhecer em garrafa ganhando com isso qualidades. Kim Fowley é vintage, Luiz Pacheco já o foi em vida, continuará certamente a sê-lo no legado que deixou. Envelhecer assim não é sinónimo de decadência. É fazer da decadência obra de arte e demonstrar que uma vela sozinha numa imensa escuridão pode brilhar mais intensamente que mil néons vazios e repetitivos...