Podemos afirmar que, para Cage, tudo era musical, até mesmo o silêncio. Talvez por isso a sua obra mais emblemática sejam 4'33'' minutos de puro silêncio. Tendo em conta que as reacções a tal peça variam entre o desnorte, o riso e a aversão, esta será certamente a única "composição" onde o momento irrepetível da interpretação absorve tudo e em que o "ouvinte" projecta totalmente o que quer ouvir. E o que ouve é a realidade.
13 de fevereiro de 2009
Música Real
John Cage é uma das figuras incontornáveis da música do século XX. Compositor revolucionário, parece sempre ter associado a excentricidade a uma enorme lucidez na sua particular apreensão do mundo. Do experimentalismo sonoro das suas Sonatas and Interludes for Prepared Piano, passando pelas explorações da voz em Roaratorio ou Empty Words e de obras onde a electrónica é soberana, Cage esteve sempre na vanguarda da música dita contemporânea. Ao introduzir no seu estilo composicional factores como o acaso e a aleatoriedade, abriu caminho para novas formas de experimentar sonoridades e subverter as leis da lógica e estrutura musical. Composições sem princípio nem fim, sem duração definida, variáveis consoante o contexto em que são apresentadas e consoante quem as interpreta, repetições contínuas da mesma nota, a mesma nota mantida até se perder a noção do tempo... Tudo isto é Cage, tudo isto influenciou mestres como Brian Eno e as suas Oblique Strategies, Klaus Schulze e John Cale e o seu círculo The Dream Syndicate (também conhecido por Theatre Of Eternal Music, onde militava o igualmente superlativo La Monte Young...).