O álbum
10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte de José Cid foi já considerado um dos 100 melhores discos de rock progressivo. O que, justiça seja feita, é legítimo. Após o final do lendário Quarteto 1111 e dos ultrapassados Green Windows, José Cid aventurou-se a solo. O seu primeiro lançamento foi o single
Vida (Sons do Quotidiano) de 1977, tema vincadamente assombrado pelos fantasmas do rock sinfónico, mas foi no seu primeiro álbum que Cid assinou uma das obras mais geniais não só do sub-género progressivo, mas de toda a música popular criada em solo lusitano. Interpretado por músicos em absoluto estado de graça, este álbum pode e deve ser colocado ao lado de trabalhos dos Pink Floyd, Eloy, ou da primeira fase dos King Crimson. Apesar da temática vincadamente associada aos
clichés deste género musical (o fascínio pelo espaço, a Terra em vertigem apocalíptica e a ficção científica derivada de Arthur C. Clarke ou Ray Bradbury), este disco atravessou incólume as fronteiras do tempo desde o seu lançamento em 1978. A música é verdadeiramente intemporal, complexa sem ser excessiva e alcança, a espaços, uma beleza sublime e sofisticada, que convida a repetidas audições. No Portugal atrasado de fins de 70, quase ninguém ouviu, e quem ouviu não apreciou. José Cid dedicou-se ao que dá dinheiro e os portugueses perderam canções como
Fuga para o Espaço ou
Mellotron, o Planeta Fantástico, e ganharam aberrações como
Portuguesa Bonita ou
Amar Como Jesus Amou. Este país tem o que merece, indubitavelmente...