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Três temas compõem o álbum. Der Reigen abre o portal para esta dimensão paralela, mergulhando-nos desde logo num mantra ritualístico e hipnótico. Os teclados ecoam em suspenso, circulares e penetrantes, até que surge Golowin, a sua voz em transe imperturbável, ecoando poesia cósmica. Flauta e guitarra acústica embalam-lhe as palavras até meio da viagem, altura em que o domínio folk é destronado pela invasão de uma percurssão primitiva e tribal, iluminada pelo piano cadente e cristalino de Klaus Schulze. Uma peça verdadeiramente do outro mundo! Die Weisse Alm parece espraiar-se ao longo dos Alpes, a melodia acústica e angelical a penetrar os ouvidos como de ar puro das montanhas se tratasse. E Golowin evoca a Edelweiss, a bela flor alpina, símbolo de pureza. Assim, toda a canção exala essa pureza e simplicidade, irradiando luz a cada movimento. Um hino à união entre a natureza e o divino, que convida a escapar para longe da asfixia urbana, rumo à meditação e à paz interior.
O improviso astral regressa com redobrada força em Die Hoch-Zeit. A congregação orgiástica dos instrumentos varia entre a aridez e a opulência, com destaque para as ondas planantes de mellotron e para os espasmos libertadores da percurssão, uma espécie de tambores do Punjab ecoantes e distorcidos. E não é preciso saber alemão para entender a mensagem, pois ela é universal.
Lord Krishna von Goloka assemelha-se, em menor dimensão, a outra obra concebida pela fina flor do krautrock: o monumental e soberbo Tarot de Walter Wegmüller, mais um helvético. Mas enquanto este oscila entre a iluminação e o oculto, o sagrado e o profano, Sergius Golowin revela uma experiência mística total. Um toque germânico dos deuses do firmamento a oriente.