O fenómeno rotulado de Hypnagogic Pop parece estar longe de se esgotar. Já dissecado neste espaço há alguns meses, parece manter uma inesperada relevância na cultura alternativa. A própria revista online Pitchfork, uma das mais influentes e interessantes publicações musicais do presente, criou um site paralelo que, praticamente, investe tudo neste movimento. Denomina-se Altered Zones e está pejado de imagética retro, referências culturais kitsch dos anos 80 - da música à ficção científica - e de projectos que dão os primeiros passos dentro de um género tão experimental e underground como estranhamente familiar. Parecem terem voltado as edições em cassette e CD-R, repletas de sons saídos do subconsciente como esqueletos coloridos do armário. A maioria desses projectos assenta num regime forçado DIY, é charmosamente artesanal e é tão futurista que parece termos chegado ao século XXV de Buck Rogers e à sua verdadeira banda-sonora original. Esta influência primitiva, ou o uso de estéticas e de ferramentas do passado para desenhar a música do futuro, tem-se espalhado por vários géneros, sendo que a música electrónica e o hip-hop são as mais contaminadas neste momento. Vale a pena estar atento a projectos como Stellar Om Source, Innercity ou Hype Williams, pois nunca se sabe se uma parte do devir não estará nas suas mãos embrionárias... Entretanto, nunca é demais relembrar dois actos que transitam directamente do sonho diurno hipnagógico e que editaram dois dos melhores discos de 2010: Os Rangers e a sua sonoridade algures entre o cinzentismo suburbano e a luminosidade do mainstream dos anos 80 e o regresso aos paraísos estivais da adolescência de Ariel Pink's Haunted Graffiti. Recordar é viver, já dizia Vítor Espadinha, um possível alvo de samplagem numa possível hipnagogia lusa..