É fatal como o destino. De tempos a tempos, em dias insuspeitos e horas inesperadas, estes discos voltam qual atavismo para nos possuir de novo. A trilogia berlinense de David Bowie. Ou seria melhor dizer a troika berlinense de David Bowie? Ou, pensando bem, o triunvirato berlinense de David Bowie? Todos estão errados. Somente Low e "Heroes" foram gravados nos míticos Hansa Studios da cidade alemã. Lodger foi gerado entre a Suíça e Nova York. E toda a gente séria sabe o que se passa nestas míticas criações, as suas causas e consequências. Caso não o saiba deveria estar já a ouvir os discos em ver de procurar o desfecho desta bajulação gratuita. Para ser estilhaçado pelas influências difusas dos Talking Heads, da música africana, turca e do disco-punk de Lodger. Para ser arrebatado na confluência entre os Neu!, os Kraftwerk e a visceralidade de Iggy Pop presentes em "Heroes". Para ser libertado em territórios nunca antes desbravados por um artista pop, que uniu Roxy Music a Steve Reich e Philip Glass em Low. Tudo isto em parceria quase siamesa com Brian Eno e com o pontual toque de Midas do Jimi Hendrix cerebral: Robert Fripp. David Bowie provou definitivamente nestes discos a sua capacidade genial de transmutação.
A verdade mais provável é que, quem leu até aqui com prazer, conhece estas obras na perfeição e apenas se juntou a mim na bajulação. É fatal como o destino. De tempos a tempos, em dias inesperados e horas insuspeitas, estes discos voltam qual atavismo para nos possuir de novo...