A obra a solo de Edgar Froese sempre viveu à sombra do seu trabalho das 9 às 5, os Tangerine Dream. Mas o pai dos mestres da electrónica assinou, em nome próprio e nos anos 70, registos que rivalizam e até superam as conquistas do colectivo. As diferenças principais entre eles residem na implosão meditativa de Froese, que contrasta com as explosões espaciais dos Tangerine Dream. Epsilon in Malaysian Pale, disco de 1975, é uma magnífica porta de entrada para o imaginário do músico alemão, um mundo paralelo de planante mas exuberante beleza. Imagine-se uma floresta, virgem como todas as florestas perfeitas, um admirável mundo novo que se explora pela primeira vez. E que fascina. Assim é o tema-título do álbum, primeira de duas excursões tranquilas, hipnóticas e meditativas, a um verde exótico mais sonhado que real. A música é uma folhagem densa, bem exemplificada na capa do disco, mas que cede ao toque e se afasta para permitir a passagem da espiral de sintetizadores, flauta e mellotron. Os sons fluem com naturalidade, ora nostálgicos, ora melancólicos, revelando que o seu mais belo segredo é a simplicidade. Colam-se aos sons exteriores e conjuram um habitat quase edénico.
Maroubra Bay assoma-se com esgares de tempestade. Anuncia-se como um eclipse e avança como uma noite estranha mas não temível. A escuridão instalou-se e sente-se perto a imensidão do mar como um espelho negro. Ao desvanecer do prólogo, fica o embalo nas ondas sintetizadas, nos ritmos de laboratório e na elipse da melodia. A hipnose é novamente induzida e o núcleo dos Tangerine Dream arde sob este manto abstracto.Maroubra Bay fica na Austrália. Epsilon in Malaysian Pale evoca, como o próprio nome indica, a Malásia. Ambos existem realmente, mas a percepção de Edgar Froese transforma-os em locais irreais, deturpados pela ebulição da sua mente criativa. E se a arte é a representação simbólica do mundo, este disco é uma obra de arte.